sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Um certo "je ne sais quois"


Um post inteiramente dedicado ao bicho homem. E às generalizações abusivas. Apetece-me.


Antes de mais, sim, bicho. Porquê bicho?


Para nós mulheres, que nos esforçamos por entendê-los e, mesmo com muito esforço, e por mais inteligentes que sejamos, não conseguimos, ao fim ao cabo, consideramos o homem um bicho estranho.


Feito à nossa imagem (ou nós à deles, embora esta questão nos possa levar a outra dissertação noutro post que não este), da mesma carne, da mesma matéria, dos mesmos átomos pequeninos que lhes constituem as moléculas, que, por sua vez, lhes constituem a mesma pele e quase todos os mesmos órgãos, são, no essencial, muito diferentes de nós mulheres.

E eu, com a mania das igualdades, considerava-os pessoas. Pessoas. "Normal", diria a minha amiga C com aquela entoação tão característica. Pessoas. Normal.


Não deixam de ser. Não os quero ofender. Sim senhor, são pessoas. Mas hoje são bichos, por absurdo. Hoje apetece-me provar a minha teoria recém formada por absurdo. Havia a forma directa, mas essa é uma verdadeira seca. Vamos ao absurdo?


Dêem-me então o braço, que eu guio-vos nos meandros do meu raciocínio tortuoso.

Passei a sexta-feira e o sábado a inquirir uns bichos desta espécie. Fiz-lhes as mesmas perguntas. Bem, perguntei muito mais a uns que a outros, apenas porque com uns me sentia mais à vontade que com outros para perguntar certas cenas de sua intimidade, digamos, sexual. Com os outros, fquei-me só pelas perguntas da intimidade mundana.

Pergunta # 1 - Como é que o bicho se apaixona?


Enganem-se minhas amigas se pensam que "aquele olhar", "aquela mensagem", "aquele toque" e todas as circunstâncias maravilhosas que vos rodeiam e vos fazem sentir nas nuvens querem dizer "estou apaixonado por ti".


Numa fase inicial, nenhum bicho está apaixonado. O coração do bicho não está por baixo da pele, do músculo e do osso? Então! O bicho quer dizer com "aquele olhar" nada mais nada menos que "quero saltar-te para cima". Ponto final. Make no mistake.


O bicho não se apaixona à primeira vista. Nem à segunda. Nem à centésima. Duvido muito que se apaixone pela vista. Hoje, duvido até que se apaixone. Que sinta. Vá, mas não vamos tão longe. Fiquemo-nos só por aqui.


O bicho não usa (muito) o cérebro. Isso é só para as horas livres, aquelas em que está a pensar no trabalho, no futebol, nos carros e vá, pronto, alguns espécimes poderão pensar até na imanência do ser. Mas nas horas livres.


A maior parte do dia, não se enganem, é em mulheres que eles pensam. Pensam? Passa-lhes pela cabeça.


Mas não estão a pensar em como foi lindo andar de mão dada convosco no meio da rua, como as vossas mãos encaixam bem, que bonita a mensagem que receberam na manhã seguinte, que quando se beijam ele deixa de sentir os pés no chão.


O bicho, na realidade, está mas é a pensar nas vossas mamocas. Ou nas de outra mulher qualquer. Isto, na melhor das hipóteses.


(lá estão vocês a pensar "ai mas o meu Amorzinho não é nada assim" ou "não, o Fofinho não é como a maioria dos homens" ou "lá está a ressabiada da I" ou "não podemos generalizar"). Whatever.


Amigas, hate to disapoint you, mas eles são mesmo TODOS iguais.


Oh, não! E agora? Que fazer com esta informação preciosa? Como contorná-lo? Como sobreviver a isto?


Pois, esclareço-vos já que não adianta de nada retardarem o momento em que entregam o ouro ao bandido. Isso só lhes faz exponenciar o prazer da caça à donzela (e caçar, está-lhe nos genes, é o que eles sabem fazer melhor).


Fazerem-no, para além de ser incrivelmente careta, porque na fase em que vocês estão, isto é, em ponto de rebuçado, também vocês desejam cair-lhes nas garras, é uma verdadeira estupidez. Negarem-se esse prazer em pleno século XXI? Por favor... Uma mulher não é de ferro.


E se uma mulher não é de ferro, do bicho então nem se fala. Oferece-me dizer que nem de m*r*a é. Mas não digo. Sabem a história dos 3 porquinhos?


Um sopro na orelha e já estão desarmados. Ou armados, depende da perspectiva.


But where was I? Ah, sim, como contornar a dura realidade.


# 1 - Joguem o jogo.


Os bichos são assim e vocês para aí a pensar que os podem mudar. Não podem. You just can't. Então, joguem o jogo, mas com astúcia.


Qual jogo? O do gato e do rato? Não, minhas queridas, o da sedução. Bem, vai dar ao mesmo. Se já sabem que "o que tu queres sei eu" e que o amor o mais certo é não vir depois, but still apetece-vos tirar umas lasquinhas, by all means do it...


# 2 - Não percam de vista o coração.


...however, não percam o vosso coração de vista nem por um segundo. Next thing you know, ele já não mora lá, na vossa cavidade cardíaca, quase no meio dos pulmões. Mudou-se para as mãos do bicho, de armas e bagagens. E nem deixou bilhete de despedida, o ingrato.


Um amigo querido um dia disse-me uma coisa que jamais esqueci e que se comprova mais verdadeira que a teoria heliocêntrica: nós apaixonamo-nos, não enquanto estamos com o nosso bem-querer, mas depois, sozinhos com os nossos pensamentos e recordando.


Segundo a teoria psicológica, o pensamento precede o sentimento. Usem esse poder. É só querer. Como?


Bem, se a maioria das mulheres for como eu, a seguir a um encontro "perfeito", tudo o que quer é ser esquecida pelo mundo durante uma década para poder relembrá-lo 347 vezes por dia sem interferências externas. Contrariem esta tendência feminina à fantasia, à recordação. Por amor de Deus, não se ponham a relembrar 347 vezes por segundo nas palavras doces que o bicho sussurrou ao vosso ouvido, na maneira incendiária como ele vos olhou nos olhos, no toque de veludo da sua pele.


Ocupem-se. De preferência tomem um comprimido dose de cavalo para dormir.


Ah, ah! Não vale uma ida ao cinema. Em vez de estarmos dentro do filme, estamos é a distrair os olhos enquanto pensamos no bicho. É ou não é?


Também não vale desportos solitários, como correr ou nadar.


O que vale mesmo é combinarem uma saída com um grupo de amigos animado, que exija a vossa presença de espírito. Ah, e esqueçam combinar com aquelas amigas(os) a quem contam (quase) tudo. Falar é meio caminho andado para sentir.


Um dia de cada vez. Sempre no presente. Esqueçam o passado. Evitem fantasiar futuro. Presente. Focus. Presente. O máximo de futuro que podem pensar é no que é que vão almoçar dali a duas horas.


Porque a vida ou o destino ou Deus (para os crentes) tira-nos o tapete mesmo antes de aterrarmos. Previnam-se.


# 3 - Façam tudo o que vos apetecer.


Não há receita. Acontece se tem de acontecer.


Por mais bombásticas na cama (ou mesmo no elevador), por mais inteligentes na sala de aula, por mais eloquentes no palanque, por mais ladies na mesa, por melhor lasagna que cozinhem, por mais amorosas que sejam com os vossos avós, por mais altruistas com os desfavorecidos, por mais stunningly beautiful, por mais sentido de humor, esqueçam tudo isso.


Nada disso conta. No fundo, nada conta a não ser "à hora certa, no sítio certo". Uma questão de mera sorte.


Mas não esperem que isso aconteça. E sobretudo, não se ponham a acreditar que tudo pode mudar de um momento para o outro.

O mais provável é que, passadas umas semanas em que tudo parecia correr bem, ou antes, em que vocês fecharam os olhos, condescendendo com algumas falhas que temos a tendência, digamos, estúpida, de perdoar, o bicho vos dê a conversa "um dois três" (abreviando, 123). E perguntam vocês o que é isto da conversa 123? Bem, conversa 123 é:


1 - Temos que falar.


2 - Não és tu sou eu.


3 - Vamos dar um tempo.


Aposto que ao longo da vossa vida, pelo menos uma vez, já deram ou levaram com a conversa 123. É mais velho que o cuspir na sopa.


Então, o que esperam? A conversa, mais dia menos dia, vai chegar. E não há nada que esteja ao vosso alcance para o evitar.


Aproveitem ao máximo o bicho enquanto o têm por perto, porque nada dura para sempre.


É que depois o bicho começa a sentir-se sufocado, com tendência a fugir-vos das mãos que nem lesma ensebada, a não atender o telefone à primeira, a demorar 5 dias para vos responder a uma simples sms. Sintomático. Típico.


O bicho domina com mestria a arte de not getting caught. O melhor mesmo é aprendermos também a fazê-lo: a nossa saúde mental agradece.


E quando se apaixonam, nem eles sabem bem dizer como é que foi ou porque é que foi. Alguns responderam-me que "é tipo uma dor de barriga; não, não é dor, é uma sensação esquisita". Achei querido, como uma criança de 5 anos a descrever uma gastroentrite.


Os outros responderam que foi com o tempo e quando repararam já lá estavam. Lamento desapontar-vos mas a isso não se chama apaixonar; chama-se antes amar ou consentir.


Os meus escopriões preferidos, como racionalizam tudo, devolveram-me a pergunta com "o que é isso do apaixonar?". Está tudo dito, não está?


Pergunta # 2 - O que é que o bicho faz para lhes cairmos nas garras?


Resume-se tudo a uma questão de cenário. Segundo os inquiridos, montar o cenário é dizer, por exemplo, que se foi surfar. Surfar tem cenário.


Ou vestir aquela t-shirt porque é um "ganda" cenário.


Pensava eu que eles não se esforçavam por isso. Mas o bicho monta a armadilha, ou melhor dizendo, o cenário. Se não vejamos:


# 1 - O bicho age no momento certo e gere as nossas expectativas como um MBA. Se fomos tomar um café, mal acabamos de pôr a cabeça no travesseiro, o bicho manda uma sms recheada de galanteios irresistíveis. Se vamos ao cinema, o bicho abre-nos a porta, ajuda-nos com o casaco e ainda escolhe o melhor lugar para nós. Se vamos jantar, discretamente paga a conta. Amigas, evitem tudo isto. Evitem responder a provocadoras sms, sejam proactivas. Liderem. Paguem a conta se for preciso. Mostrem-lhes quem manda.


# 2 - O bicho faz a barba (comigo, digamos que prefiro barba de 3 dias, portanto não colhe).


# 3 - O bicho põe perfume (comigo, digamos que ADORO um bom perfume mas como a pituitária é apurada, consigo distinguir o odor natural, esse sim, muito mais importante).


# 4 - O bicho escolhe a roupa. Sabe o que lhe fica bem e, pior que isso, sabe pelo nosso estilo que estilo deve adoptar (comigo, digamos que aprecio sobremaneira o sense of style e a adequação ao uso. O importante é terem pinta...em todas as circusntâncias).


# 5 - O bicho escolhe o melhor boxer da gaveta e se for preciso, ainda se chateia com a empregada ou com a Mãezinha, no worst case scennario, se aqueles boxers que lhe ficam a matar ainda não estão lavados (comigo, slip é factor de exclusão, e bichos deste mundo, se me estiverem a ler, saibam que mulher que se preze prefere boxers ou nada, não necessariamente por esta ordem).


# 6 - O bicho das duas uma: ou leva cd's se o território é chez nous ou escolhe a banda sonora se estamos chez il. Either way, ou não confia no nosso bom gosto e, pavor, leva o dele, ou supõe que nos vai dar uma lição (comigo, bebés, não vão longe; se há coisa que não me consigo abstrair é dos sons e se o som não me apraz, tá tudo estragado).


# 7 - O bicho, se estiver em vias de extinção, tece uma teia de palavras. Aqui é que a porca torce o rabo. Pode até nem as ter ensaiado, mas a Palavra, comigo, leva-me na certa. Não há nada melhor no mundo que conversar, exprimir ideias e absorver outras, colocar em palavras tudo e mais um par de botas. E se o bicho happens to have accurate sense of humour e me consegue pôr a rir à gargalhada em 3 tempos, é rezar a Deus para que as perninhas não me falhem no momento de fugir.


# 8 - O bicho escolhe a colheita do melhor vinho. Bom, diz-se de Baco que desinibe. Truque vil. A primeira coisa que me passa pela cabeça quando há vinho em campo é "o que tu queres sei eu". É vê-los fraquejar quando me confesso abstémia ou, if they're lucky, quando noto que o bicho conta cada mililitro de veneno ingerido e faz um ar de perfeito terror quando intercalo com um copo de água penalty style. Só para cortar. É como o ás de trunfo. Dá-me um gozo...


# 9 - O bicho conhece o corpo de uma mulher como a palma da sua mão. Ou melhor dizendo, atenta à mais ínfima variação de ritmo da nossa respiração e guia a sua viagem ao balançar das nossas ondas. Ou pior ainda, quando prefere que sejamos nós a guiar. Amigas, aqui é o salve-se quem puder.


Pergunta # 3 - O que o bicho espera que façamos quando já é tarde demais?


Aqui a resposta foi unânime: get lost.


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E a vossa pergunta é "mas porque é que raio este post se intitula "Um certo "je ne sais quois"", quando ela me escreve sobre o bicho homem?".


Fácil, fácil. A característica que provei ser essencial para que bichos e mulheres se apaixonem é, nada mais nada menos que o famigerado "je ne sais quois".


E viva o totoloto!

2 Paradigma(s) do Outro:

Vera disse...

LOL! Post delicioso. Melhor descrição seria impossível ;)

Beijinhos

Anónimo disse...

Bom! realmente teorizar é fácil...Está bem escrito mas não deixa de ser revelador do teu desconhecimento do que é o "bicho homem". Os preconceitos são aqui utilizados para tentar descrever algo que realmente demonstras desconhecer...aconselho-te vivamente a conheceres mais e melhor o dito bicho para te aperceberes que não há estereotipos...há homens para todos os gostos, feitios e sabores e para ti tambêm há de certeza, mesmo com essa atitude negativa. Não sintas a derrota ou a desilusão, continua á procura..