domingo, 19 de outubro de 2008

Ten years from now


Em entrevistas de emprego e, por vezes, em animadas conversas pessoais, é usual perguntarem-me como é que me vejo daqui a dez anos.


Não tenho uma bola de cristal, embora tenha presságios e um sexto sentido instintivo ao qual dou mais importância que aos factos vividos. No entanto, há bons augúrios que têm pernas para andar e me colocar no caminho certo.


Confesso que no plano pessoal nunca pensei muito no assunto. Mas há uma imagem que retenho.


Já em termos profissionais, terra conhecida, tenho ainda um longo caminho a percorrer. Os meus maiores aliados já se encontram perfilados a meu lado para me suportar, sempre que o desânimo pareça ter partido para férias. Tenho características pessoais que sinto me levarão a bom porto. Sou persistente, hard-worker, assertiva, paciente, diplomata, metódica e não tenho medo do trabalho. Tenho medo é de falhar. E por isso, tento tudo ao meu alcance para que o falhanço perca toda a probabilidade de se tornar realidade. No fundo sou rebelde. Odeio regras, embora as cumpra exemplarmente. Odeio hierarquias, dado que não se fabricam verdadeiros líderes a torto e a direito, pelo que geralmente não lhes reconheço propriedade ou skill para ocuparem cargos de destaque. Questiono frequentemente as suas indicações e quando não o faço é de estranhar. É sinal que desisti. E quando desisto de algo é porque encontrei um novo caminho que sinto me fará mais feliz.


Respondendo à célebre questão, no campo profissional, estou a preparar o terreno para que possa trabalhar por conta própria. Uma empresa, qual Eneida, feita à minha imagem. Sem vícios. Sem cunhas. Sem pretensões. Sem pressa de chegar. Uma fortaleza feita de princípios, de trabalho duro, de generosidade, digna e de valor acrescentado para a sociedade. Quero ter uma equipa consolidada. Quero bons profissionais a meu lado. Não tenho medo que a sua sabedoria me ensombre e desejo aprender. Adoro ensinar mas prefiro aprender. Quero ser justa. Quero premiar o seu trabalho, seja com reconhecimento ou com progressão de carreira. Quero ser reconhecida pela equipa também. Quero ter sempre novos e diferentes projectos. Fugir à especialização e à rotina. Sou melhor em campos transversais.


Daqui a dez anos terei 40.


Quero o meu refúgio de porta vermelha. Todo em piso térreo. Comunicante. Aquele que desenhei tinha 12 anos. Um jardim interior de onde derivam todas as divisões. Janelas do chão ao tecto, para que a luz nos ilumine sempre, seja a da lua ou a do sol. Uma lareira. Uma mesa enorme. Lá fora, um pomar heterogéneo. Uma figueira, um pessegueiro, uma cerejeira, uma macieira, uma pereira, uma laranjeira, uma oliveira. Preciso de terra. Uma horta. Um morangueiro. Um herbanário, como lhe chamo, reservado aos aromáticos e ao chá. Chá príncipe, hortelã-pimenta, manjericão, salsa e coentros. Beldroegas, agrião. Silêncio. Sombra. Preguiça. Água. Verde. Um caminho. O caminho de volta.


Uma família. A minha. Nasceu há pouco tempo o meu segundo rebento. Concebido por Amor. Criado no Amor. Cubro-o de beijos. Dorme um sono tranquilo no meu colo fértil, enquanto eu, sentada à soleira da porta da cozinha para o quintal, lanço um olhar atento às brincadeiras do meu primeiro com os primos. É Domingo. Céu nublado. Corre uma brisa amena e mansa. Estão quase todos a chegar para o almoço que a minha Mãe e Irmã preparam lá dentro. A Luna espreguiça-se na janela. O meu Pai lê o jornal numa cadeira redonda ao meu lado, impaciente.


Há coisas que nunca mudam. E outras que, estando escritas, vêm a caminho.


Ouço o motor do carro a chegar. As portas tardam em fechar. Traz a sua Mãe pelo braço. Instala-a numa cadeira perto do meu Pai. Todos vêm ao seu redor para a beijar, incluindo o nosso Labrador. Um sorriso de felicidade estampa-se-lhe no rosto. Coloco-lhe o seu neto nos braços.


Estende-me a sua mão, com a graça de quem convida para uma valsa. Caminhamos de mãos dadas e em silêncio. Pocuramos a sombra...


...a sombra do vento.

1 Paradigma(s) do Outro:

Anónimo disse...

Transportas-te-me no tempo!

Quem sabe não receberás um telefonema da Diniz nesse domingo a saber se tás livre para 2 dedos de conversa e um chá hortelã-pimenta?!

Quando abrires recrutamentos apita ;)

Beijinho amigo

Diniz