Pode dizer-se que "Não é Roma!", "Não é Paris!". É simplesmente Madrid. Diferente.
Não preciso de dizer que andámos quilómetros e que chegavamos ao hotel completamente rotas e com pés, pernas e ombros doridos.
Primeiro dia: fomos conhecer os highlights da zona antiga. Como ficámos num modesto Casón na Gran Via, fomos todos os dias a pé até ao Palácio Real e daí até à Plaza Mayor. A parte antiga da cidade, digamos que não me disse nada. Aquelas cores ocre tristes, o tijolinho nas paredes dos prédios, as lojas de recuerdos completamente atolhadas de tralha, vestidos de sevilhanas, abanicos e castanholas. Os bares e restaurantes para turista...
Culminámos a visita na Puerta del Sol, para mim, o Martim Moniz mas maior, o que só torna a zona mais assustadora. Passámos depois por uma zona comercial onde vimos uma fila gigante de jovens madrilenos à porta da Fnac (era o lançamento de um livro que não consegui perceber o nome nem o autor). Vestem-se todos num mix de punk rebelde, visual estudadamente desalinhado e até um tanto ou quanto sujo.
Nesse dia, do que mais gostei foi do interior do Palácio Real, faustoso, cada sala mais rica que a anterior. Dá para entender, pela arquitectura da cidade e por estes pequenos pormenores, que os Espanhóis aproveitaram bem o dinheiro dos tempos áureos dos Descobrimentos, à custa da exploração comercial (e não só) de outros povos.
A cidade toda ela é "à larga".
No segundo dia, optámos por ir espreitar todo o esplendor de Madrid Bourbón. Ele foi o Parque del Retiro com os Palácios Velasquez e Cristal, ele foi a feirinha do livro a caminho da célebre Atocha, onde vimos o último do Carlos Ruiz Zafón mas não nos atrevemos a comprar...estava em castellano...ele foi o Centro de Arte Reina Sofia com um dos meus preferidos Guernica de Picasso e todos os grandes do meu favorito espanhol Dali. Houve outro que não conhecia e amei pela simplicidade: José deTogorres i Ilach chamado "Desnudos en la playa" de 1929.
Não fomos ao Prado porque cheirávamos a mofo e precisávamos mesmo era de arejar. E, além disso, queriamos mesmo ver arte espanhola e não do resto do mundo. Para isso, há outros grandes museus europeus e norte-americanos.
Não fomos ao Real Jardin Botânico. A porta era a 600 metros. Mas não era. Era talvez a uns 6 quilómetros, isso sim. Mesmo em frente ao Prado.
Almoçámos na zona das lojas, El Barrio de Salamanca, à hora madrileña. Passámos por todas: uma mega Carolina Herrera, uma Chanel, uma Jimmy Choo, uma Prada, uma Dior, uma Dolce Gabbana, uma Gucci, umas 530 Bimba & Lola's, uma Massimo Dutti (que naquela zona está cheia como as nossas Bershkas), 23 milhões de El Corte Inglês. Durante toda a tarde vivemos a panaceia da procura de uma loja Tous. Lá a encontrámos. Um cubículo. Depois, fomos ao gelado típico na Haggen Dazs. Fuma-se lá dentro. Aliás, fuma-se em tudo o que é estabelecimento comercial em Madrid. Palmas. Ao menos não são hipócritas como nosotros.
Não fosse a minha querida AF lá mi ia desgraçando com uns Jimmy Choo lindos de morrer. 500 mocas. Depois, era com uns Prada em verniz. 300 mocas. Acabei por trazer uma malinha e umas luvas e uns sapaticos. Tudo lindo de morrer.
Não fosse eu, e a minha querida AF não se desenvencilhava sozinha mais a língua. Não entendia nada. Não fosse ela, perdia-me nos combóios e nos metros. Lá nisso, sou super despreocupada. E nos dinheiros. Mas ela não. Ela é "recto, recto, recto, num bira, bai suempre, suempre em frente, chega ao redondo e corta à derêita".
Engraçado foi encontrar um Portuense rebelde na loja dos sapatos brasileiros (Hazzel) que nos recebeu com um daqueles sorrisos magníficos. Foi tão fácil comprar sapatos. Trouxemos dois, um par cada uma. Trocamos à semana. Não fora isso, tinha trazido os dois pares. Uns cinzentos compensados em camurça e uns pretos abertos à frente e de verniz. Graças a Deus calçamos o mesmo número. Graças a Deus não suamos dos pés. Graças a Deus não temos nojo uma da outra.
Jantámos num restaurante na Plaza Mayor. Fomos atendidas maravilhosamente por um senhor que tinha casado com uma Transmontana. Entendia a nossa necessidade de uma saladinha (para desenjoar os fritos todos) e um naco de carne grelhadinho. E batatas fritas caseiras. Fez-nos uma das melhores sangrias de sempre. E ainda nos ofereceu licor de Oruso. Fui tão contente para o Casón...
No terceiro dia, lá fomos nós à procura da bendita Rosaleda em Campo del Moro. Estava fechado. Ia haver uma festa a 12 de Outubro e estavam a preparar o cenário. Mierda. Apanhámos combóio na Atocha para El Escorial. Muy hermoso. Voltámos a tempo de almoçar uns Huevos Rotos maravilhosos, à hora dos madrileños. Acompanhámos com una caña Cruzcampo. Bem fresquinha.
Mais compras. Madrid Bourbón, Salamanca e Gran Via.
Jantámos no restaurante mais antigo do mundo, El Bocin, segundo o Guiness. Amámos. Foi a primeira vez em que, sentindo frio, busquei o casaco e apareceram, como que por magia, dois simpáticos empregados, um em cada manga, para me vestir. Foi a primeira vez que dois homens tiveram um real interesse...em vestir-me. Estávamos entaladas entre duas mesas: uma de brasileiros e outra de americanos...de Chicago.
Dia seguinte, "alevantámo-nos" às quatro e meia da matina. O coeficiente de cagaço foi da minha exclusiva responsabilidade. Chegámos a Barajas com uma hora e um quarto de antecedência. Deu para perceber que Madrid às 6 da manhã é mais movimentado que às 6 da tarde. Fomos a tudo o que era free shop.
Voámos. Dormimos. Chegámos. E fomos afogar a neura num brunch delicioso em Santa Apolónia...
2 Paradigma(s) do Outro:
Olá,
Fiquei a conhecer o texto por uma pessoa que ambos conhecemos...., eu um pouco menos! Parabéns pois é de facto muito giro o relato do texto e toda a descrição revela sentimentos, vontade e, até poderei dizer, cheiros.
Continue assim.
Gostei.
Um beijo atrevido.
Caro Anónimo,
Não faço ideia de quem seja e confesso que até acho uma certa piada a isso.
Seja sempre bem vindo ao meu humilde "estabelecimento comercial". Seja livre de comentar.
Seja livre de me oscular.
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