segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Mexican Jew


Sábado, dia de anos do meu Ben, o meu cunhado, do nada, convida-me para jantarmos no Domingo. Parece que estava por cá um colega/cliente/parceiro estrangeiro a quem era preciso entreter.


Ao mesmo tempo que pensei "mas eu sou alguma p*t*, ou quê?" respondi-lhe "tá bem". A I antiga em oposição à nova. Pareceu-me que era importante para ele, a minha Irmã ficava feliz, e sempre ia poder exercitar my rusty very british accent. What the hell?


Era quase hora de me virem buscar. Estava eu em completo silêncio no meu sofázinho, com a mantinha pelos joelhos, entretida a escrever o post de ontem, a minha Luna a dormir e a suspirar, mesmo ao alcance dos meus carinhos. Juro-vos que a última coisa que me apetecia ontem era sair de casa.


Obriguei-me a levantar, tomei um duche rápido. Creme, perfume, sombra, rímel, baton, brincos, sapatos, casaco, mala. Espelho. Looking good! Voei no elevador.


A minha Irmã estava linda. Loira de vestido preto é sempre motivo de regozijo. Fomos buscar o Estrangeiro ao hotel. Típico gringo: chega e não oscula ninguém. "Ora vamos lá quebrar aqui o gelo", pensei.


Comecemos pela geografia. Era americano de San Diego, California. Filho de pais mexicanos, passou alguns anos na Cidade do México até regressar de vez a Seattle. Estudou Marketing em Londres e está de momento a trabalhar numa multinacional em Dublin, onde está também a frequentar o seu MBA. Importante será dizer que a Mãe era hippie nos Loucos Anos Sixties.


Passemos à gastronomia. Tacos. Mole. Enchiladas. Cuitlacoche. Guacamole. Burritos. Picante. Contou-me o segredo da spicy food: não é beber que ajuda a acabar com o fogo; comer pão é que é.


Fomos ainda buscar outro colega que já tinha conhecido antes, a sua casa, em plena José Malhoa.


Iamos ao japonês. Outros tempos e eu teria resistido, mas a I-prá-frente-é-que-é-caminho vê oportunidades e não obstáculos. Fui.


Já tinha experimentado aí umas 3 ou 4 vezes. A primeira, pela mão do meu querido D, ao Sakura. He knew his way arround. Pediu tudo sozinho e preocupou-se em pedir também teppanyaki. Gostei, mas a parte do peixe cru sozinho, sem arrozinho para disfarçar, não dá. A segunda vez na Austrália, outra vez teppanyaki. A terceira vez, em casa de amigos, de um take away em Telheiras. Não fiquei apaixonada.


Fomos ao Estado Líquido. Parece que há um sushi lounge no top floor. Passei quase todo o jantar entretida na conversa com o Mexicano. O que mais apreciei foi o facto de ele se ter confessado judeu reformista. É cá uma cultura! Discutimos as principais diferenças entre Cristianismo e Judeísmo, enumerámos as cerimónias. Nós temos 7. Eles têm 3. Se fosse pela quantidade...Eles rezam 3 vezes ao dia. Nós...praguejamos umas 30. Fiquei a saber que as meninas também têm direito ao seu bar mitzvah, mas têm outro nome que, se não estou em erro é "bat miztva". A diferença entre um tê e um érre.


Miso, sushi, sashimi, tempura, wasabi e mais umas especialidades. Vinho branco a acompanhar. Fomos comer a sobremesa noutra freguesia.


Acabámos a noite no apartamento do amigo. Trocei: "pensava que aqui só existiam escritórios e hotéis". É o único edifício habitacional...e pasmem-se, janelas enormérrimas espreitavam a nossa bela cidade. Uma casa onde os bibelots eram vinho e livros de engenharia...


"Bachelor", pensei.


No final da noite é que eu percebi que a música que o meu cunhado queria que eu desse não era ao judeu...


...3ª F tenho um date.


E é nisto que dá sair sem vontade: acabamos por conhecer pessoas interessantérimas e quem sabe, algo mais...


É só para aprendermos que de nada adianta ficar em casa enquanto a vida corre lá fora...

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