quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Ensaio sobre a Cegueira


Muita tinta tem aqui corrido sobre música. Alguma sobre livros. Outra tanta sobre filmes.



Agora sobre Literatura à séria, de facto, tenho escrito pouco, o que leva o estimado leitor a considerar que está diante de uma “postadora” sofrível em termos de alta cultura.


Dizer-vos que não é bem assim, decerto não vos convencerá. Tenho mesmo é de o provar.


Pois bem, aqui vai um post que poderá servir de evidência objectiva.


Take your seats. Make yourself confortable. Descalcem-se, se vos apetecer.


Andava à toa na vida, quando de repente é atribuído um prémio Nobel a um português. Um escritor para o qual nunca tinha tido grande vontade de espreitar, dado que todos me diziam que era chato.


Pensei eu “Com tanta coisa boa para ler por este mundo fora, tanto escritor, tanta obra, tanta curiosidade, porque hei-de eu perder tempo com um que me dizem ser chato?”.



Era agora que eu cortava os pulsos. Ai, se arrependimento matasse…


Mais uma vez veio a provar-se que o mundo anda doido e não perde um segundo no fim do dia para usar o cérebro e deixar-se envolver pelo diálogo filosófico interior que obriga a que atribuamos no nosso intelecto uma “fala” a uma personagem (sim, uma personagem, nunca um personagem, please…). Reparem, este escritor não nos faz a papinha. Só dá (a modos que em figura de estilo) o pó, o leite e o microondas. O resto somos nós quem tem de cozinhar. E cada qual cozinha com o jeito que Deus lhe deu.


Durante pouco mais de duas semanas devorei aquela que foi uma das minhas mais ricas experiências de leitura. A primeira leitura. Comecei com voo rasante e depois fui ganhando altitude. Por assim dizer, em concretizando, iniciei a minha maior Paixão (no sentido literal) literária por Saramago com “Memorial do Convento”, passei por “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, subi à montanha com “Ensaio sobre a Cegueira” e comemorei o estado d’alma pleno com “As Intermitências da Morte”.


Dia 13 de Novembro estreia O Filme. O Filme, repito. Nunca pensei que conseguissem transformar A Obra em Filme. Não penso ser possível que O Filme venha a ser melhor que A Obra. Tinha na minha cabeça a imagem criada das personagens. Vai ser difícil que as d'O Filme tenham linha de correspondência directa com as da minha mente, mas…


…estou aberta a novas experiências e a questionar os meus dogmas. Sobretudo em se tratando de um realizador que eu venero. Meirelles faz coisas do arco da velha. Diria até que fez 3 dos filmes da minha vida: Cidade de Deus, O Fiél Jardineiro e Ensaio sobre a Cegueira. Sim, é já um dos meus favoritos, mesmo sem o ter visto ainda. É tudo uma questão de Fé.


Vou andar atenta aos sites que “oferecem” bilhetes para as antestreias. Se não for na antestreia, vou ver o filme no próprio dia 13. Mesmo que haja o sismo que anda prometido desde 1985. Mesmo que seja só o projector e eu. A película há-de rodar para mim.


[não sei se perceberam ainda, mas este tipo de determinação é-me mesmo característica quando só vejo o meu objectivo à frente]


“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.” – o lema da minha vida.


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