sábado, 4 de outubro de 2008

CIÚME


Como já vem sendo habitual, as sextas-feiras revelam-se realmente libertadoras para pessoas que, como eu, passam 8 ou mais horas por dia a desempenhar um papel (o de trabalhador exemplar), sem pisar o risco do campo pessoal um único segundo. É preciso muito controlo e sobretudo muito jogo de cintura para dodge all the bullets...As pessoas tendem a ser muito curiosas quando há uma aura de mistério.




E no trabalho, that's all they will get from me: a I profissional.




Ora bem, que faço eu às sextas-feiras para incarnar a versão I descontraída? Ora muitas coisas, mas ontem foi só mesmo um jantar de despedida de dois amigos queridos que vão para Angola construir estradas. Ah, sem esquecer o belo do pézinho de dança que tanto me faz vibrar...




Antes disso, estava eu a sair da auditoria, lembrei-me de combinar com a minha boleia habitual a ida para lá. Era fim de semana sem "a minha pequena filha", por isso calculei que ele também fosse. Super-frio, disse-me que já tinha uma coisa combinada mas depois aparecia por lá.




- Ok. Beijinho então e até logo. [hum, aqui há gato]




Lá fui eu, linda, perfumada e versão descontraída na minha máquina. O Eixo N-S à noite não se pode...demorei quase 45 minutos para chegar a Campo de Ourique.




Estavam já todos sentados, momento único na minha vida, porque chego sempre antes dos demais e já é quase o outro dia quando este grupo começa a comer. Cumprimentei-os com saudações cordiais (à rainha, como já vem sendo habitual), acenando com a minha delicada mão de Princesa. Tinha um lugar à minha espera, ao lado do S, o meu companheiro das corridas difíceis. Os olhos mais bonitos da mesa, sem contar com os da R e os da S.




Rimos imenso, como sempre. Tinha um vegetariano à minha frente, não é um habitué no grupo, muito calado, mas estive a puxar por ele toda a noite e finalmente, quase à última da hora diz uma daquelas piadas de arrumar qualquer um...O que eu ri, Senhor!




Havia também uma cara que eu não conhecia. Uma loira "afreakalhada" sentada ao lado do meu Af na outra ponta da mesa. Estranhei e perguntei ao S que novidade era aquela. Mentiu-me descaradamente só pelo gozo de me ver desorientada. Disse que estava com o Af (que se queixa sempre de falta de companhia feminina, quando na realidade é ele que as afasta com as suas piadas escatológicas e de confessado ódio à sua oitava madrasta). A freak estava mesmo era com o T. E, pelos vistos, já durava há quase duas semanas. Woohoo. Duas semanas é para T um verdadeiro record. T é a pessoa que melhor conheço, afinal fomos colegas de faculdade, mas é também um verdadeiro enigma no que toca a relações amorosas. Enfim, ri com S...




De repente, já muito adiantado na noite, aparece A acompanhado de uma cara que me era familiar mas não sabia dizer de onde. Vinha com o fato vestido, sem gravata. Nunca vi A de fato. Fica uma brasa. E ela, com um ar triunfante e toda de negro. Acotovelei "a minha comadre" do lado e disse:




- Eiláaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa, novidades?


- Ya


- [pressenti uma má onda, mas não comentei]




A passou o resto do jantar a expiar a minha reacção (de óbvia naturalidade, mas que escondia uma certa estranheza). Enquanto metralhei piadas para os meus queridos, estivemo-nos a relembrar dos nossos tempos de Técnico, para eles uma festa diária. Eram os maiores baldas que por lá havia.




A noite já ia alta, quando pagámos, combinámos as boleias e fomos "sair". P e eu apanhámos boleia do A e da Sua Nova Namorada. P e eu no banco de trás e a SNN no "meu" lugar da frente. Ora como não podia deixar de ser, P e eu fomos à gargalhada de Campo de Ourique a Santos sem ouvir nada do que os "crescidos diziam". Riamos de momentos. Mas o Momento na Física, sobretudo quando se fala de Estática, é inexistente num corpo parado, cheio de Inércia. Toda esta conversa porque dei um encontrão propositado em P antes de nos enfiarmos no carro e ele nem se mexeu do sítio. Até confesso que fui bruta...




Anyway, em chegando ao nosso Pézinho de Dança, A não tirou os olhos de mim. E eu fico doida com boa música. Com boa companhia. Quando posso saltar de conversa em conversa como uma Farfallina. Gritava (que isto de conversar nas disconights tem um quê de sensualidade) perto do rosto perfeito de Al umas piadas sobre o facto de ele ser um cota (fica tão picado, mas são só 8 aninhos). Conversei com a nova do T sobre a minha óbvia abstinência alcoólica. Muito porreira. Trocava olhares suspeitos com P, enquanto fazíamos um concurso para ver quem sabia mais depressa o nome das músicas que passavam. Abraçava-me ao Af com nítida saudade e ele ainda nem tinha ido. Estranhei S não ter vindo terminar a sua despedida e perguntei por ele a Af. Surpresa das surpresas, S andava atrás da SNN e quem pegou foi A. S não foi para não ter de se chatear.




Males de orgulho ferido, pensei. Com a minha indiferença, consegui que A desistisse de me olhar, o que o fez decidir ir-se embora. Na despedida, sussurrei-lhe ao ouvido:




- Os meus sinceros Parabéns. Estou muito feliz por ti.


- [a tristeza nos seus olhos espelhada]




Tudo isto para dizer, meus senhores, que me senti "traída" apenas porque ele podia ter-me contado da sua novidade. Também há uma espécie de "traição" quando um confidente muito chegado nos omite um facto importante da sua vida. E sobretudo, quando duas semanas antes falávamos da sua incapacidade de se relacionar "sem medos" depois do seu casamento com AL.




Seria tudo isto uma grande encenação para me provocar ciúme?




Patético...eu nunca senti nada do género e não seria com certeza por ele que ia começar agora...




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