domingo, 26 de outubro de 2008

Fruir


O melhor da festa é a antecipação, dizem. Com a imaginação fértil com que Deus me dotou, o gosto em receber e a capapcidade infinita de dar, até poderia concordar. Mas ontem passou-se perfeitamente o contrário.


Há muito que não os convidava para um jantar Daqueles em minha casa. Decidi abandonar a tendência e convidei-os há mais de um mês. Depois de muitas conversações, avanços e retrocessos com a data, finalmante arranjámos uma que melhor conveio aos convidados: ontem.


Fou um dia atípico. Menos nisto: sábado de manhã, casa a brilhar. Repor as velas. Recolocar os tapetes que a Luna insiste em manter fora do lugar.


Apeteceu-me ir à praia. Foi a melhor coisa que fiz nos últimos tempos. Vesti o meu bikini maravilha à 007, code name para modelo parecido com o de Halle Berry e Ursula Andress, only mais moderno, com melhor e mais bonito tecido e que me faz sentir a mulher mais bonita da praia.


Vidros abertos, cabelos soltos, óculos escuros, rumo a sul. Melhor uma com bar, não me vá dar a fome. Sereia. Contavam-se 7 carros no estacionamento, o meu incluido. O bar estava fechado. Paciência. Magotes de surfistas aglomeravam-se na areia (poucos carros mas muitos ocupantes, pensei). Andei pouco até encontrar um lugar que distava do vizinho mais próximo alguns 500 m.


Despi-me. Estendi a toalha. Apanhei o cabelo num carrapito. Tive preguiça de espalhar creme. Peguei no iPod e lá fui experimentar a água. Estava um mar revolto com ondas perfeitas enroladas em tubo, mas brilhante. Lembrei-me da célebre frase de MR "Embora nadar até ao risco." e ri-me. Ri-me sozinha. Música perfeita. Cantava a plenos pulmões. Ninguém me poderia ouvir.


Ali estive perto de uma hora a rodopiar na espuma das ondas.


Cansada de andar em tropelias, caí na toalha. Ligaste-me, J'inho, foi quando ouvi o teu toque sobrepor-se ao da música. Querias combinar comigo no Bairro. Já tinha planos, mas podia ser que ainda me apetecesse. Ias andar de bicicleta. Eu ia acabar de ler o meu livro.


Li. Li. Li. Quase 100 páginas de enfiada. Terminei. Sempre que termino um livro de que gosto inunda-me uma sensação de perda. Mas que é sempre diferente de livro para livro. Nunca mais me vou sentir assim. E urge a vontade de começar outro e outro e mais outro. É um dos meus vícios. Isso e chocolate. Isso e sol. Isso e dançar.


O sol queimava a pele. E que bom que é o calor que nos beija.


De volta. Não via nada à frente a não ser uma fome doida. Passei no Deli Deluxe. Perdi a cabeça nos queijos: emmental, évora e azeitão. Creme chévre para barrar. Tostinhas perfeitas. Batatas fritas hand cooked de red spice. Áquela hora não havia mesa.


Corri para o carro, não fossem os queijos perder toda a sua graça. Intriga-me aquela vagina de entrada para o Lux. "É uma ideia de extremo bom gosto", pensei. O artista devia ser condecorado. Pus-me a pensar nos momentos de alta trip que poderiam ter estado na origem de tamanha descoberta e ria-me. Ria-me sozinha, rumo ao Suportel.


Passo antes ali na Tarik. O quê? Chocolate com croissant e um copo de leite gordo gelado. O céu.


Mousse de paté provençal, cereais para a semana, rúcola e tomate cereja para a salada e os ingredientes maravilha para a maravilha de lasagna.


Casa. Demorei cerca de 2 horas a cozinhar só a parte da carne. Obra prima. Enquanto isto via um filme que passava no Hollywood. Pus a mesa a um canto e dispus pratos, talheres, copos e guardanapos com o gosto que me é característico.


Não sei como, mas os convidados chegaram de uma golfada só. Distribuí beijos em caras sorridentes, peguei nos seus casacos e levei-os ao quarto. Traziam vinho e sobremesa. Alguns traziam também medo da Luna. Portou-se bem, o meu bebé. Só arranhou H.


Um dos meus maiores prazeres é cozinhar e receber quem gosto. Éramos 8. Podíamos ter sido 10. L trabalhou até tarde. PM estava ainda tonto. Senti a vossa falta e quero que voltem.


Pediram-me música. Os cd's bons estão no carro. P interrropmpeu-me e disse "Vamos refazer essa frase. Estão a estragar-se no carro...". Ri-me. Tem toda a razão. Sou uma preguiçosa de primeira. Pus a banda sonora de Until the end of the world a rodar em repeat. Ninguém notou. A meio da noite, P vira-se e pergunta: "Este cd é meu, não é?". Resposta: "Foste tu que me ofereceste...mas se quiseres empresto-te". Calou-se. Riram. Menos eu. Sei bem porque o disse.


Foi sem intenção, posso assegurar-vos. A nossa música passou suavemente. Lembrei-me de nós, de quem éramos e de como nos amávamos. Passou. Ficou durante muito tempo uma Amizade profunda de cão e cego. Íamos a todo o lado juntos. Passámos por dificuldades abismais juntos. Pensavam-nos ainda namorados, mesmo decorridos milénios. Durante muito tempo, lutei para conquistar a confiança da sua bélle H. Foi tão duro. Mas consegui. Fui "madrinha" do casamento. Há 3 anos e meio.


Hoje pode dizer-se que a instransigência de P nos afastou. Incapaz de aceitar a diferença na casca, P julga uma mudança de menatalidade em mim. Mas não, P. Tudo o que admiravas, tudo o que nos unia está cá. E mais, o meu amor profundo pelos teus filhos, como se fossem meus sobrinhos, acrescenta-se à lista. Ah, e a amizade, ternura e respeito pela tua mulher. E por ti.


Como pudeste afogar a nossa Amizade tão bonita assim?


Acordei, submergindo dos meus pensamentos. Todos felizes à minha volta. Falávamos de vinho, de tempos idos, de professores que já nem estão entre nós, do Magalhães, da mousse em sumo de laranja, das dores de H, de intolerência mortal à galactose, de como os Pais podem ser cruéis e desinformados, de como se pode "reter" um aluno no sistema de ensino de hoje, do Joca e da sua queda monumental para a fossa, das conversas estridentes com o Rúben, do Ramalhete de Queiroz. E de mais. Muito mais.


Senti-me tão em Paz. Talvez fosse do vinho. Não...


...aquela é a minha gente.






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