terça-feira, 21 de outubro de 2008

Debruçados sobre o Tejo


- J’inho, Meu Amooooooorrrrrr!!!


- Nêêêêêsssssssssssssss Linda!!! Como tás?


- Tou bem e tu? A que se deve a honra?


- Sabes onde é que eu tou agora?


- Não faço a mínima ideia…


- Em Paris!!!


- Oh, Meu Deus!


- Tou aqui, no topo da Torre Eiffel e decidi ligar-te…


- [lágrimas a brotarem dos olhos que dominei com mestria e escondi na voz] Tão querido…sabes que nunca mais vou esquecer o gesto…nunca mais…


- Oh, a quem mais poderia eu ligar?


- Sei lá, mas é uma honra para mim…tás sozinho?


- Não tou com mais pessoal lá do Técnico.


- O Miguel?


- Sim e o Luís e mais pessoal.


- Manda beijinho ao Miguel e diverte-te muito…


- Eles também mandam beijinhos. E um meu especial…


- Outro para ti, Meu Querido!



Há dias em que desmoronamos com simples gestos de ternura com que nos brindam pessoas próximas.


Recordando-me deste episódio de há uma semana, decidi ligar ao J’inho para o desafiar a um jantar, ao qual ele acedeu prontamente. Só tive tempo de ir a casa, ligar a luz para a Luna, cantar-lhe os Parabéns (que ela estranhou) e pôr-me à civil. Voei na minha bomba até à porta do Técnico. Assim que o avistei, sai do carro e corri para ele, abraçando-o com muito amor, abraço esse completamente correspondido.


- Hum…tu tens coisas para me contar…


- Sim mas não. E tu?


- Mi águardje. Tenho uma história bombástica.


Escolhemos depressa o local da jantarada. Nisso, J’inho e eu entendemo-nos como casados há 20 anos.


De caminho, foi-me contando histórias de enrolanços, amaços, pinotes e números de circo entre pessoas nossas conhecidas. Comentámos que este mundo anda todo doido. Um que pensa que é um Casanova reencarnado, que se ocupa do dolce fare niente e em espalhar venéreas à pop feminina que se deixa encantar pela sua aparente poliglotia e genialidade. A outra que se deixa apaixonar pelo conto do vigário e cujo amor-próprio deixa muito a desejar. A outra que pensa que é a Mata Hari dos tempos modernos, femme fatalle condensada em metro e meio, suposta amiga das partes. Nada nesta história me chocou. Bem, talvez, apenas o facto das intervenientes femininas terem continuado amigas como d’antes, sob a desculpa minimizadora dos estragos “ah e tal, era só sexo”.


Imaginando que as partes não têm capacidade para uma relação à lá Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, é fácil julgar. O difícil é compreender.


Estacionei a bomba frente ao Tejo. Estava uma daquelas noites. Nem uma brisa. O termómetro marcava 22º Celsius, não centígrados (isso é a escala) .


Sentámo-nos numa belíssima mesa para dois, luz de velas, a melhor vista para a senhora.


Pedimos risotto de pesto com lagosta em limão. Delicioso, como a companhia. Muito falámos. Muito nos olhámos. Muito comunicámos. Muito rimos. Muito partilhámos. A mousse também.


J’inho insistia em oferecer o jantar.


- Nem pensar.


- Mas porquê? O último fiquei eu a dever-te e ainda te tou a dever outro de comemoração pelo meu doutoramento.


- Não. A meias. Outro dia, noutro restaurante, com outro clima eu deixo que me ofereças. Hoje não.


- Pronto. As you wish.


Ofereceu-me o braço e caminhámos uns poucos metros até beira-rio. Estava calma a noite. O reflexo da ponte e do Cristo-Rei fizeram aqueles momentos dos mais especiais que vivi.


Connosco a conversa nunca termina, apenas as circunstâncias nos silenciam.


É bom ter-te como Amigo Incondicional. É bom poder contar sempre contigo.


Um Bem-Hajas.

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