sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

A Maior Riqueza da Vida...



Ontem, depois de um dia horroroso de trabalho, nada melhor que uma bela corrida para "soltar os cachorros" acumulados durante o dia, pôr os pulmões a abrir ao ar frio que perfura e testar a "máquina" aos ensaios de resistência.


Para os amantes da corrida, aqui fica uma dica: levem companhia. Aumenta a vossa capacidade cardíaca.


Fui a conversar o caminho inteiro. E que conversa! E que companhia! Cansa mais, mas esquecemo-nos do propósito principal e às tantas, quando o corpo já se habituou àquele trabalhar ao rubro, parece que o nosso estado natural é conversar a correr...


Terminados que ficaram a corrida, a caminhada, os alongamentos e a conversa, entrei em euforia total. Fui para casa a 400 à hora, só de pensar na excitação que ia ter a seguir.


Subi sem chave. Uma inovação. Toquei à porta. O Pai veio atender. "Beijinho, Pai". "Beijinho, Nês". Mas eu não via mais nada à frente. Nem lhe perguntei como tinha corrido o dia. Mal bati a porta, ouvi logo o chiar do carrinho e um palrear distante. Abri a porta da cozinha com muito cuidado, mas ele já me esperava, erguendo o seu corpinho para espreitar quem aí vinha.


O meu coração batia rápido mas parou assim que lhe disse "Ah, Meu Querido Fofinho, quanta saudade!" e ele me responde com Aquele sorriso. Aquele sorriso que lhe ilumina os luzeirinhos que ele tem no lugar dos olhos, que mostra as duas serrilhazinhas que lhe irrompem na gengiva tenra e que o faz corar. Aquele sorriso de inocência. Acompanhou-o com um agitar de braços e pernas e aquela súplica conhecida do "pega-me ao colo" que eu tão bem conheço.


Acenei à Mãe, que me esperava com ternura, um cumprimento rápido.


Mal desapertei o fecho de segurança, começou a arquear as costas para que as minhas mãos coubessem entre o seu corpo e o ovo. O meu corpo e o dele conversam sem palavras. Estreitei-o junto a mim. Pegou nos meus cabelos como lianas com as duas mãos, abraçou-me o pescoço com uma força desmesurada e, como forma de agradecimento, beijou-me à sua maneira, chuchando a minha bochecha.


Cobri-o de beijos, abraços, palavras doces e macacadas. Fiz-lhe caretas e escondi a cara. Ri à gargalhada, sempre que lhe faço isto. Suspira. Suspiramos os dois. Cantei-lhe as canções que ele tanto gosta e que lhe causam tanto espanto como se fosse a primeira vez que as ouvisse. Brinquei com ele no tapete. Dancei com ele. Segurei-o enquanto jantou, abrindo aquela boquinha entre colheradas, como uma cria de passarinho. Mudei-lhe a fralda. Vesti-lhe o pijama. Adormeci-o, pela milésima vez, junto ao meu peito para que o bater do meu coração o sossegasse. Ajeitei-lhe o cobertor laranja, como o meu Pai me fez todos os dias da minha vida até ao dia em que saí de casa dele.


Já era tarde. Perdi a noção das horas, o que acontece sempre que a felicidade transborda no meu peito. Beijinho demorado à Mãe, para compensar do desleixo de há pouco. O Pai relembrou-me dos deveres familiares a cumprir no dia seguinte e levou-me à porta.


Fiz o caminho de casa em piloto automático, nem me apeteceu ligar o iPod. Ia modo em standby, cheia de pensamentos e lembranças felizes.

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