segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Inspiração


Há uns tempos que E andava a pedir uma audiência connosco (plural majestático, para os mais incautos). Imprevistos fizeram-nos sempre adiar os nossos encontros.


Hoje correu tudo como planeado. Ela chega a minha casa do alto dos seus 20 Kg (pronto, 30, vá), linda como sempre. Entendo pelo seu olhar que algo se passa. Cozinhei com carinho um belo bife biológico à pimenta acompanhado de espinafres cozidos ao vapor. Estava uma delícia, como a conversa. Entre o main course e a belíssima dessert (petit gateaux, ensinados pela mão do meu querido A), E foi desenrolando o novelo. O que eu não planeei foi a enorme surpresa com que essa lã me aqueceu.


Então não é que o Amor existe? O Verdadeiro? Ele existe! E há pessoas bem pertinho de mim e do meu coração que o vivem. Que esperaram desesperadas. Que duvidaram que ele alguma vez chegasse. Que até duvidaram merecê-lo. Que duvidaram ser correspondidas. Que se acharam indignas de ser amadas. Que quiseram arrancar esse Amor do peito em nome de uma suposta amizade (era de facto amizade, mas unívoca, e não tenho dúvidas nenhumas do sentido das setinhas neste eixo de coordenadas). Que até quase o deitaram a perder. Mas que o vivem e sofrem-no. Porque o Amor-perfeito é, de facto, imperfeito. Há que batalhá-lo a cada dia. E semeá-lo e regá-lo. Acima de tudo, it takes two to tango, que é como quem diz, para o tornar perfeito.


E este Amor inspira-me...


- Pensei que não quero passar por aquilo que tu passaste...

- [cara de espanto, em jeito de come again]

- Sim, isso de esperares quieta no teu canto que ele caisse em si e te procurasse, toda cheia de compreensão!

- Ah, isso! Pois, e assim consegui o enorme feito nunca d'antes alcançado de o perder duas vezes. Duas vezes. E, aprendi uma coisa nos últimos tempos: nós procuramos a nossa sorte. Nada nos cai do céu. E se eu soubesse o que sei hoje, podes crer que não o tinha deixado sozinho com os seus pensamentos nem por um minuto. Estou tão arrependida... Não faças o mesmo que eu. Vai lá. Fala-lhe do coração. Diz-lhe o quanto te arrependes. Peito aberto, que nisto do Amor não há cá orgulhos. Só nas telenovelas é que depois de 30 mil anos eles ainda se lembram do nosso nome e do Amor que nos têm...


E não é que ela foi. Dali a uma meia hora, toca a porta. Era E. Tão desmoralizada...adivinhei o que tinha sucedido. Ele não estava lá...[o destino tem destas reviravoltas]


Chorou. Tomou-se com perdida. Queria morrer mas não sabia como. Quis abraçá-la, tão frágil, mas não soube como. O telefone toca.


- [expectativa]

- Oh, é a outra maluca...

- [desilusão]

- Não, espera, não é nada, é ele!

- [pausa]

- Não vou atender!

- [não vais o quê?] Atende, E [no tom mais autoritário que consegui, fazendo um gesto na direcção do meu quarto para maior privacidade]!


Era ele. Tinha ido ter com ela. Mas ela não estava lá. Ligou-lhe 11 vezes, mas o telefone dela está para sucata, não deu sinal de vida [porque é que os telefones nunca funcionam quando mais precisamos deles].


Inspirada na história de E, acho que vou avariar o meu: pode ser que finalmente toque com aquela música...


Hoje as minhas preces vão para ti, E, para que nunca mais deites a perder aquilo que com tanto esforço conseguiste.


E vou rezar também para que Deus ilumine as ideias peregrinas que passam por essas mentes sábias que julgam os outros sem terem todos os membros da equação. Não pensam que para se perder algo é preciso tê-lo tido na realidade. Não pensam que sempre souberam que esse Amor existia, mas não quiseram acordar para a vida. Que o tinham ao seu lado, na mira de chantagemzinhas baratas que não cabem na cabeça de uma mulher verdadeiramente emancipada e digna de ser Mulher. Que serão sempre mais felizes ao lado de quem realmente as Ame e valorize. Que não se quer ter a nosso lado um homem só porque o amamos. E que tal sermos amadas também?


O Mundo anda tão virado de pernas para o ar que já ninguém acredita que as pessoas não escolham quem verdadeiramente Amam. E que, mesmo não querendo, vão Amar as pessoas mais proibidas. É Deus quem escolhe. Ninguém, na posse do seu juízo perfeito, vai escolher um caminho tão difícil...é simplesmente, a sua cruz.


E só vos digo uma coisa, gente pequenina, um dia, hão-de provar dessa água que disseram que nunca beberiam, sofrendo os males do seu próprio veneno. Já dizia a minha querida Vózinha P: deseja mal que terás em dobro. Ou com dizia o meu querido amigo B: cospe para o ar que com ele hás-de apanhar ;-)


I rest my case...





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