sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Ensaio sobre a Cegueira - Parte II


Em duas palavras: BRU TAL


[nota de edição: eu odeio a expressão “brutal”. Hoje-em-dia é tudo brutal. “Esta sopa é brutal” ou “Esta música é brutal” ou “A minha mãe é brutal”. Tudo isto quer dizer bom, óptimo, maravilhoso ou sinónimos. Com tanto adjectivo que a língua de Camões oferece mesmo ali, à mão de semear, e vão logo escolher o brutal…pelease]

Bom, dizia eu que o filme é Brutal. Estava certa quando escrevi no outro post que, mesmo sem o ter visto, estava já na shortlist de nomeados a Melhor Filme da Minha Vida. E este galardão não é atribuído assim, levianamente, por dá cá aquela palha ou do pé para a mão.

Era suposto que um filme fosse pior que o livro que lhe deu origem, excepções feitas a Dracula de Bram Stoker e a Lolita de Vladimir Nabokov. Ponto final. Para piorar as coisas, o livro em epígrafe é de um dos meus escritores favoritos.

Mas desta vez, para variar, o filme não é melhor nem pior que o livro: é-lhe tão somente Fiel. Não acrescenta, nem corta. Não tece considerandos. O realizador filmou factos. Podia até tratar-se de um documentário. O sumo, esprememo-lo nós. As metáforas do livro também estão lá. Cabe a cada um interpretá-las como bem entende. Se é que entende. Como no livro.

Por outras palavras, amei o facto do filme ser feito para pessoas inteligentes. Não há cá papinha feita.

Fiquei com vontade de repetir para reparar nos pormenores além primeiro plano. Passei todo o santo filme com o coração a saltar-me no peito. Vi poucos jeitos de o conter cá dentro, tal era o nó.

E quando se pensa que a sortuda é a Mulher do Médico porque vê quando mais ninguém consegue, eu diria, que sortudos os que cegaram! Porque não viram a miséria humana, a degradação crescente, apesar de a terem sentido. Infinitamente forte e bem interpretada por Julianne Moore, a personagem cola-se-lhe como segunda pele.

O Cão das Lágrimas, não o imaginava assim. É uma das cenas de Esperança.


O Velho foi magnificamente interpretado pelo grande senhor Danny Glover.

Esperava que o Menino e a desgraça fosse uma dicotomia melhor aproveitada, mas o Bem Comum perderia com isso. Respeito, portanto, a Visão. É por isso que ele é realizador e eu sou uma mera espectadora.


O Médico, não se consegue odiar. Tinha o Mark Ruffalo como actor de segunda, contracenando com Jennifer Garner e Reese Witherspoon em filmes de domingo à tarde. Provou estar à altura. Espero vê-lo em grandes filmes daqui para a frente.

O Gael Garcia Bernal, esse sim, conseguimos odiar. Mas odeia-se mais o Cego que sempre foi Cego.

Mas vão ver (com os vossos olhos e a vossa massa cinzenta) e contem-me tudo!

Se podes olhar, vê.
Se podes ver, repara.


E mais não digo!


[Ah, só mais uma coisinha: os críticos de cinema deste País de m*r*a, que em vez de sentirem um profundo orgulho, quando mais não seja por verem no genérico final um nome português e uma obra prima do Cinema, andam para aí a maldizer gratuitamente. Raistaparta estes ingratos! Deviam mas era ser empalados!]


E, agora sim, tenho dito!

3 Paradigma(s) do Outro:

Anónimo disse...

Amiga, dá uma olhada ao blog do Fernando Meirelles sobre o processo de elaboração e montagem do filme. Acho que vais gostar...

http://blogdeblindness.blogspot.com/

Bjocas
JF

Unknown disse...

olá olá
Também amei o filme. E eu contrário de ti o livro não é um dos meus favoritos. Nem o é o autor. Mas apesar disso adorei o filme.
a única pena que tenho é ter pensado que este filme nunca poderia ter sido feito por portugueses....
beijinhos
pat

Anónimo disse...

É isso mesmo INESE!
E são tantas as vezes que olhamos mas não vemos...esta cegueira que tentamos tratar com lentes polarizadas de egoísmo... às vezes só me apetece partir para algum lugar do mundo onde se veja tudo por outro espectro!

O livro não sei, mas o filme é mto bom!

Beijinho

Diniz