sábado, 8 de novembro de 2008

Tourada

Campo Pequeno. Ontem. Nove e meia da noite.

Vem-me à memória que é apenas a segunda vez que ali vou. A primeira, tinha uns 5/6 anos, para ver circo por altura do Natal. Odeio circo. Já naquela altura era visceral.

Comentei. Ele já lá tinha ido para ver tourada. Confessou até que houve uma altura que não apreciava, mas agora, com a idade, começava cada vez mais a fruir do espectáculo, em especial daquela parte mais justa que era a pega, a parte dos forcados. É mano a mano, dizia. O homem contra o touro.

Fiquei cega. Comecei a ouvir um zumbido nos ouvidos. Cheguei a pensar que estava a ter um ataque cardíaco. Ou um avc.

É que este assunto tem sido debatido cá nas minhas entranhas desde que me conheço como gente. Os meus quase pais e a minha quase Mana são aficcionados. Os meus pais não ligam. A minha Irmã não liga.

Mas eu ligo e muito.

Ohmessa! Não consegui vencer aquela vontade que tive de começar a disparatar com aquele absurdo. Digamos, que também não tentei com o afinco que a situação pedia.

Aproveito este espaço de opinião para expressar a minha. Doa a quem doer. Ofenda-se quem se ofender. Prometo que desta vez respondo aos comentários que aqui quiserem deixar. O assunto assim o exige. Vamos lá então desconstruir:

1) Ah e tal, é tradição

Meus Amigos, tradição vem do latim e quer dizer entrega, isto é, algo que se passa de geração em geração, um hábito, um uso. Se é tradição é porque vos passaram. E será perpetuada, se assim o entenderem, para a próxima geração.

Isto é aquilo a que se chama pescadinha de rabo na boca. Só é tradição porque vos passaram e só continuará a ser tradição se decidirem passar a outro e não ao mesmo.

Oferece-me dizer que também é tradição muçulmana a excisão feminina. Penso que aqui estarão todos de acordo que se trata de uma verdadeira atrocidade, para não dizer atentado à condição humana.

2) Ah e tal, não fossem as touradas e já não havia touros

Por muito que me custe, é a ordem natural das coisas. Ou queriam conviver com mamutes e dinossauros? Se o pobre bicho não se adapta às condições ambientais de hoje-em-dia, que fazer?

Uma coisa é andarmos atrás das tartarugas para lhes proteger os ovos dos predadores, com o objectivo de as devolver ao meio. Louvável.

Ou servirmos de "chulos" ou facilitadores das relações sexuais dos pandas porque são um animal tão, mas tão, mas tão preguiçoso que nem para o sexo arranja energia. O objectivo: termos pandas em zoos. Não tão louvável, mas enfim, sozinhos não se safavam lá fora.

Outra coisa bem diferente é andarmos a criar touros para depois os sacrificar numa arena para gáudio de uma minoria. Reprovável, meus senhores. Reprovável.

3) Ah e tal, mas a parte dos forcados é justa

Justa? I see. O homem (ou vários equivalentes em peso ao touro, serão 5, se não estou em erro) contra o touro. Se virmos a coisa como um momento isolado, até me pareceria bem.

O problema começa pelo facto do raio do contexto mudar tudo. O contexto em que, depois de 300 mil atrocidades inflingidas ao touro (umas que acontecem antes do touro sequer sair da ganadaria, outras durante o transporte até à praça, outras nos bastidores da praça, outras, as menores de todas, em praça pública) aí é que os Forcados têm tomates para enfrentar o touro (desculpem a expressão grosseira, mas estou mesmo revoltada). Mano a mano. Pois sim! Por essa altura, já o coitado do touro está cansado, irritado, abatido, conformado. Isso não é de igual para igual. Temos pena.

4) Ah e tal, mas depois da tourada o touro é morto sem sofrimento

É o mínimo. Mas não o matam para o comer, pois não? Matam porque andaram a torturar o animal por divertimento e depois ele já não está em condições para permanecer vivo sem ser ligado à máquina.

Também vos digo uma coisa: ser considerado espectáculo ver o touro morrer na arena, como em Barrancos ou em qualquer praçinha de toiros de meia-tijela em Espanha, é sinal de que as pessoas se divertem com coisas tristes. Faz-me lembrar os velhos tempos do escorbuto, em que as bruxas eram queimadas em praça pública ou os condenados decapitados (na melhor das hipóteses) à frente de homens, mulheres e crianças. E todos achavam muito divertido.
Ora, Graças a Deus, que se inventou a televisão!
Pronto.
Passado que estava este primeiro embate, e depois da discussão amistosa cujos argumentos colheram, ele guarda a viola no saco. Lindo menino.
Et aprés, 3 horas de puro deleite ao som de Melanie Pain que, digam lá o que disserem, é a alma do grupo. A minha preferida:In a manner of speaking. Bem e Killing Moon. Mas Dance with me também me leva. Para a paródia, Too drunk to fuck ou Human Fly.

Aqui vos deixo uma letra que podia ser minha:

In a Manner of speaking
I just want to say
That I could never forget the way
You told me everything
By saying nothing
In a manner of speaking
I don't understand
How love in silence becomes reprimand
But the way that i feel about you
Is beyond words
Oh give me the words
Give me the words
That tell me nothing
Ohohohoh give me the words
Give me the words
That tell me everything
In a manner of speaking
Semantics won't do
In this life that we live we only make do
And the way that we feel
Might have to be sacrified
So in a manner of speaking
I just want to say
That just like you I should find a way
To tell you everything
By saying nothing.
Oh give me the words
Give me the words
That tell me nothing
Ohohohoh give me the words
Give me the words
That tell me everything
Oh give me the words
Give me the words
That tell me nothing
Ohohohoh give me the words
Give me the words
That tell me everything