terça-feira, 4 de novembro de 2008

W


Nem a propósito do hot topic de hoje, ontem fui ao cinema ver Oliver Stone. Aprecio sobremaneira as visões do realizador e por isso, arrisquei-me à probabilidade de ir ver um conjunto de tristezas pegadas, ou não fosse o filme uma espécie de biografia desse - no mínimo - Senhor da Guerra.


Ia com uma boa expectativa: a minha amiga I já o tinha visto - e devo acrescentar que os nossos gostos para filmes são água e vinho - e confessou que tinha gostado. Achava que era uma visão um tanto ou quanto imparcial.


Imparcial é bom neste caso, pensei, porque, caso fosse enviezada, bastaria assistir a qualquer conferência de imprensa disponibilizada no You Tube e comprovar com os nossos próprios olhos o que já sabiamos há muito: que a inaptência deste senhor é criminosa. Não roça os limites. É.


Mas lá fui eu desafiada (penso eu de que, ou talvez tenha eu desafiado) ver com os meus próprios olhos essa ode à imparcialidade.


Com a barriguinha cheia de farffalle ai legummi della staggione e o espírito animado por meia garrafa de S. Miguel, lá fomos nós basicamente desidratar - alguém, por favor, dimensione a convecção forçada do ar condicionado daquela sala de cinema - durante 131 minutos, mais sete de intervalo.


Não vou contar tudo. Levanto apenas a pontinha do véu para o seguinte: há vários motivos pelos quais a monarquia é falível, um dos quais (se não o menor) tem a ver com hereditariedade desviante. Ora, se eu sou Rei porque a minha linhagem diz que sim, porque ja o meu pai o era, porque esta família é parente de outra que, por sua vez, se enquadrava na classe nobreza vigente, nada me garante que, de facto, tenha verdadeiras capacidades de governar. Até podia ter, dado que o Ser não se resume apenas aos genes herdados, nem apenas à educação, nem tão pouco apenas à personalidade. Mas não tenho. E já o meu pai também não tinha - mas sempre tinha um bocadinho mais que eu.


Golpe do destino, vai que o senhor acaba com o rabinho sentado na sala oval, prova viva que quando se tem estrela na testa vai-se longe.


O filme dá a conhecer ao mundo os dramas pessoais de W (Geo, para a sua inteligente mulher): o crescente desorgulho e desafecto que o Pai lhe dedicava, uma Mãe dura e crua, a dependência do alcoól.
Mas também lhe enfatiza as qualidades. Resumem-se à boa memória e ao bom fígado (que ninguém me tira da cabelça que os loucos anos destravados não vaticinem uma cirrose como motivo mais que válido para uma morte anunciada). Isso ou vai o Bin Laden, solta o Saddam e vêm contentes e felizes atrás dele, com a Interpol e os SS no seu encalço (perdoem-me o momento silly do dia).


Não basta um homem ser intelectualmente incapaz.


Estar à mercê de "conselheiros" motivados por interesses pessoais e pela vacina de crueldade que o mundo todo leva agora assim que nasce, é, sem sombra de dúvida, o congregar de maldições que só podiam dar no que deram: guerra pública e em directo, guerra velada, crise económica, tortura, negligência, ... (e estaria aqui gladly a vida toda, mas tenho que ir ali a um jantar dentro de 3 horinhas), ... .


Condoleezza é retratada como uma Mr. Burns, queixinhas e lambe-botas. Powell, pelo contrário, foi poupado ao escrutínio público da atribuição de dolo na questão Iraque, tendo sido interpretado com um ser dotado de uma visão humanista e sobretudo sensata. Um verdadeiro banana, no fundo. Não sei se engulo essa, mas vá, temos que pensar que é ficção. Como o sangue dos filmes...


E no fundo, W queria mesmo era ter sido quarterback...


...mas porque é que não o deixaram?????????

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