sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
Vou sabendo de ti
Paradigma de IV às quinta-feira, fevereiro 28, 2008 2 Paradigma(s) do Outro
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
Mudanças
Então não é que me mudaram de Direcção novamente?!? Ao que parece, os chefes lá em cima pensam tão bem de mim e da minha competência que designaram que eu estaria subaproveitada, numa área que me dava pouca visibilidade e pouco crescimento técnico e profissional.
Pois bem, e como desempenhei com louvor e distinção as primeiras funções que me foram incumbidas quando entrei nesta casa, querem de mim que volte a fazer exactamente o mesmo.
Seria sonhar muito alto, se ao menos me tivessem perguntado o que é que eu desejava para mim...
Paradigma de IV às quarta-feira, fevereiro 27, 2008 0 Paradigma(s) do Outro
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
Élace
Paradigma de IV às quinta-feira, fevereiro 21, 2008 3 Paradigma(s) do Outro
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
Invicta
Paradigma de IV às quarta-feira, fevereiro 13, 2008 1 Paradigma(s) do Outro
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
União Zoófila
Desde miúda que criei uma empatia especial com gatos, que nunca consegui criar com cães. Não que não goste de cães, antes pelo contrário, amo cada criatura viva.
Mas a minha falta de empatia com cães deve-se a um longo historial:
# 1 - Em pequena, durante as férias, havia, em casa dos meus avós maternos, um pastor-alemão extremamente perigoso, o Rex, que não tinha respeito por ninguém, excepto a quem lhe levava comida. Um dia, soltou-se e mordeu umas visitas que os meus tios recebiam. Tivemos que nos trancar em casa enquanto o cão estava solto, e resistir às suas investidas sobre a nossa porta. Assustador, para uma miúda de 6 anos, já de si medrosa .
# 2 - Em férias, os meus Tios tinham sempre em casa o hábito de ter um cão de companhia. Como não me conheciam bem, o tempo de habituação era sempre imenso e, como os cães sentem o medo, estava sempre em desvantagem em relação a uma possível aproximação. A seguir ao Rex, veio o Pucky, um boxer, depois um salsicha que não me lembro o nome, depois a Fera, outro pastor-alemão e por fim a Shen, uma labrador castanha de olhos claros. Linda!
# 3 - Durante o ano, e a partir dos nossos 15 anos, a minha amiga I tinha o Spa, um cocker spaniel dourado, muito burro mas muito afectuoso. Como o conheci em bebé, estabeleci as regras desde o início. Quando me via, não me saltava com as patas para cima e não me dava lambidelas. Ao contrário, quando sentia que devia, chegava-se ao pé de mim e baixava a cabeça. Aí sim, dava-lhe festinhas intermináveis e às vezes, em lucky days, deixava-o saltar para o meu colo. Tive um desgosto enorme quando ele se foi. Agora a I tem o Blackie, outro cocker spaniel, mas azul ruão. Em brincadeira, digo que é um Spa mas queimado.
# 4 - Um episódio traumático. Vinha da escola, nos meus 12 anos com o meu bom amigo (quase-irmão) B, quando um cão se solta da trela do dono e vem cravar os seus dentes pontiagudos na minha perna. Era um pastor-alemão. Dor lancinante.
So, embora os ame enquanto criaturas, temo-os (agora menos, que cresci).
Gatos sempre tiveram especial empatia comigo e eu com eles. Gosto da sua suposta independência, do alto da sua soberba. E gosto das suas reacções imprevisíveis. Vêm pedir colo e festas quase magneticamente. Admiro-os e não é de agora.
# 1 - O primeiro (e único) gatinho que tive veio ter a casa dos meus avós paternos e era de pelo branco e grande, olhos azuis. Dei-lhe comida e confiei na minha Vó E para tratar dele enquanto estivesse em Lisboa (devia ter os meus 9 anos). No Natal, deu-me a triste notícia de que o pastor-alemão do vizinho o tinha levado pelo cachaço com muita convicção e que ele, o Gato, não tinha resistido.
# 2 - P tinha a gata mais querida do mundo, a Paulina. Era branca e preta. Um doce. Convivi com ela quase diariamente durante 4 anos. Infelizmente adoeceu e já não está entre nós.
# 3 - Depois houve a Cuca Maluca, uma gatinha completamente desvairada e selvagem. Só P a conseguia trazer ao colo e fazer-lhe as judiarias do costume.
Por isso, sempre tive o sonho de ter um. E estes meus amigos sempre souberam disso. Agora, andaram à procura, que nem uns perdidos, de um gatinho pequeno para mim, mas não conseguiram encontrar. Ao que parece, as gatas costumam ter o cio em Fevereiro/Março, pelo que dificilmente arranjariam gatinhos pequenos por esta altura. E depois, houve o Natal...
Em desespero de causa, decidiram ir à União Zoófila, em Sete Rios. Acompanhei-as, quando me contaram a enorme surpresa que me estavam a tentar preparar.
Estacionámos o carro à porta. Uma confusão reinava e um cheiro pestilento pairava no ar. Para ir ao Gatil, precisamos de atravessar quase todo o canil. Só no espaço da entrada estavam pelo menos 10 cães com o ar mais infeliz do mundo. Eram todos rafeiros, com o pêlo mal tratado, definhados e magros, com olhos carentes. Partiram-me o coração. Outros havia confinados em pequenas boxes de arame, mais violentos ou em recuperação. H reparou num que tinha o pêlo completamente queimado. I distribuia as suas festas a quase todos os que encontrou. Eu estava em estado de choque. O cenário era um murro no estômago. São cerca de 600 cães, encontrados ou salvos dos carrascos do Canil da Câmara Municipal.
Enfim, passando para o Gatil, reparámos que as condições melhoraram drasticamente. São cerca de 200 gatos, mas o espaço mais arrumado e limpo. Os gatso aparentemente menos carentes. Too late! No sábado, havia 3 piquenos gatos que tinham sido doados. Os gatinhos "é" como as crianças para adopção: os bebés têm mais "saída". Dos crescidos, havia os saudáveis, os infectados com FIV (a SIDA dos gatos) e os doentes com FELV ( a Leucemia dos gatos). Ainda esperei que houvesse algum, doente ou não, que me falasse ao coração, mas não. Talvez o meu coração tivesse ficado momentaneamente morto só de ver os coitados dos cães. Decidi pensar.
Hediondo, o Homem. Crueldade. Desumanidade. Falta de civismo. Desresponsabilização. Desolação. Como pode haver alguém que acolha um animal e depois o abandone à sua sorte?
E como pode uma organização que trabalha arduamente em prol dos direitos dos animais não ter apoio nenhum do Estado, dependendo apenas de "mecenas", patrocinadores e sócios ausentes? E pior, o Estado ocupar-se em abater os animais abandonados, em vez de gastar o mesmo dinheiro em educação cívica (quase que escrevia física - também precisavam!)...
As quotas, caros ouvintes, são de apenas €25 anuais. O que custa isso? São só dois almoços...
Eu vou!!!!
Paradigma de IV às segunda-feira, fevereiro 11, 2008 3 Paradigma(s) do Outro
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
O Céu é o limite?
- [Silêncio. Cala-te!]
Paradigma de IV às sexta-feira, fevereiro 08, 2008 0 Paradigma(s) do Outro
Faria hoje 33 anos...
Foi o dia em que o meu querido querido Primo M nasceu. Ti P e Ti Z estavam grávidos de M quando se casaram. Ti P tinha apenas 17 anos. Ti Z tinha 21. Um descuido, mas um daqueles descuidos que os uniu para a vida inteira.
Eram muito novos os dois, cresceram juntos, trabalharam juntos, criaram os dois filhos juntos. Enriqueceram juntos, na saúde e na doença, na riqueza e na probreza. Penso mesmo que até que a morte os separe.
M sempre foi uma criança difícil de domar. Era autónomo, trabalhador, adorava o skate e a sua BMX. Ah, e torcer os caracóis à sua Irmã mais nova...Mais tarde, o body boarding, as festas, a Tuna e os Escuteiros.
Quando chegavam as férias, era altura de fazermos os 4 a cabeça em água aos meus Pais e avós maternos. Os meus Pais não me reconheciam. Nem à minha Irmã. No resto do ano, éramos como duas amestradas. Naqueles 3 meses ficávamos selvagens. Lembro-me até de fazer greve a pentear o cabelo.
Ele e a minha Irmã uniam esforços para nos derrubar, à minha Prima R e eu, fosse à luta ou em jogos de cartas ou mesmo ao STOP. Quando vimos que não lhes conseguíamos ganhar nem à força (dada a diferença de idades), R e eu começámos a construír unm espaço só nosso, onde eles não entravam. Nem queriam. Tinham lá as aventuras deles.
Houve uma altura, por volta dos meus 13, 14 anos (os dois melhores Verões da minha vida) em que a diferença entre mim e R era maior em termos de desenvolvimento (ela era uma criança ainda e eu começava a dar os meus primeiros passos no difícil caminho da adolescência).
Aproximei-me de M. E ele de mim. Comecei a saír com ele e com os amigos, todos rapazes. Até que me apaixonei por um dos seus melhores amigos, o Americano. E ele por mim. À primeira vista. Foi o meu primeiro Amor. Namorámos quase 4 anos. Não existia mais nada nem ninguém no mundo. Durante esses 4 anos escrevemos cartas um ao outro todos os dias. TODOS os dias. Ainda as guardo.
O Mundo encarregou-se de nos afastar. Nunca mais nos vimos...até ao dia derradeiro do funeral do meu querido M, 3 anos depois.
Dele recordo o enorme sorriso aberto, o som da sua gargalhada, a maneira como segurava a caneta, a seda do seu cabelo, a cadência do andar, o "comes é bolachas", o "peixe é pra gatos" na fase das 7 costeletas.
Tenho tantas saudades, Meu Deus!
Wherever you are, I'll forever keep a little piece of you!
Paradigma de IV às sexta-feira, fevereiro 08, 2008 0 Paradigma(s) do Outro
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
Quaresma
Começa na 4ªF de Cinzas (ontem) e termina no Domingo de Ramos. Ao longo deste período, sobretudo na liturgia do domingo, é feito um esforço para recuperar o ritmo e estilo de verdadeiros fiéis que pretendem viver como filhos de Deus.
A Quaresma dura 47 dias, embora para o calendário litúrgico os domingos não contem, perfazendo então 40 dias. A duração da Quaresma está baseada no simbolismo do número quarenta na Bíblia que significa provação. Nesta, fala-se dos quarenta dias do dilúvio, dos quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias de Moisés e de Elias na montanha, dos quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, dos 400 anos que durou o exílio dos judeus no Egipto.
A Igreja católica propõe, por meio do Evangelho proclamado na quarta-feira de cinzas, três grandes linhas de acção: a oração, a penitência e a caridade. Não somente durante a Quaresma, mas em todos os dias de sua vida, o cristão deve buscar o Reino de Deus, ou seja, lutar para que exista justiça, a paz e o amor em toda a humanidade. Os cristãos devem então recolher-se para a reflexão para se aproximar de Deus. Esta busca inclui a oração, a penitência e a caridade, esta última como uma consequência da penitência."
Paradigma de IV às quinta-feira, fevereiro 07, 2008 0 Paradigma(s) do Outro
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
Fim-de-semana Prolongado
Acordei com frio, semi-destapada. Tinha os ombros completamente enregelados…assim que recuperei a consciência entendi que a roupa que tinha na cama correspondia à última vez que cá tinha estado, ainda em Outubro, com um calor apreciável. Sempre pensei que voltava mais cedo, mas a vida é mesmo assim: imprevisível.
Aproveitei o facto de ter acordado, para roubar o edredão à cama da minha Irmã (há-de ser sempre dela, mesmo que já cá não durma faz tempo) e continuar o sono, desta feita mais quentinha, mas deu-me a espertina. Aproveitei para passar por bluetooth [lá estou eu a tocar com a unha do indicador no meu dente da frente] as fotos e os sons que coleccionei do telemóvel antigo para o novo. A verdade é que o antigo estava a precisar de reforma, mas eu apego-me tanto aos objectos que depois fico mesmo com muita pena de os ter de deixar.
Antes deste, que herdei da minha Irmã, tinha um lindo, branco, comprado por mim a muito custo ainda trabalhava na Consultora. Um mês depois, o raio do telemóvel já custava menos 100€. É assim a vida: resume-se a uma questão de timing. Lembro-me do “xitéx” da compra ser tão grande que, durante uma das secantes aulas da pós-graduação, tirei uma foto do meu colega do lado direito (JF) só pelo prazer de associar ao contacto. Muito nos rimos nós durante aqueles longos meses de trabalho duro. 5 dias por semana, 3 horas por dia, das 18h30 às 21h30 (se não estou em erro), durante um ano lectivo, isto se não contarmos com os 3 meses do trabalho final. Agora acredito mesmo que, por causa das pós e dos mestrados e dos MBA’s, acabem casamentos e namoros a uma taxa alucinante.
Anyway, adorava o telemóvel, tanto que foi testemunha do namoro com um dos colegas da pós, o Estropício nº 3, que atendia pelo nome de SB [sim, há quem coleccione selos, “do not disturb”s de hotéis, isqueiros, filmes… eu cá colecciono estropícios]. JF bem que tentava sucessivas aproximações, umas mais subtis que outras, mas por vezes há pequenos pormenores que excluem à partida um bom candidato. Não ajudava nada o facto de usar meias com personagens da Disney, por mais formal que fosse a sua roupa, por exemplo. Interessei-me, ao invés, por um homem misterioso que se esfumaçava junto do caixote de lixo, sempre vestido até às orelhas com o seu sobretudo azul-escuro e fato escuro por baixo. O JF fazia-me rir tanto quanto SB me intrigava. E onde há fumo há fogo.
O telemóvel branco começou a receber e enviar mensagens, a passar horas infindáveis em conversação, a tocar muito com aquela música horrorosa romena que estava na berra naquele Verão e que tanto o divertia…ai, como é que se chamava a música? A foto, não era da cara dele…era de uma tarde “Dame Blanche”, ou para os mais distraídos, “Quente e Fria” que passámos juntos, apaixonados na praia…era simplesmente a fotografia do mar da Caparica captado num qualquer instante de Novembro…
No último Natal, estava em cima da mesa da cozinha da casa da minha Irmã (o telemóvel banco) e teve o azar de estar perto demais da cena onde se desenformou o pudim de ovos…levou com o caramelo nas teclas. Desde aí, escrever uma sms passou a ser um suplício para as pontas dos meus dedos delicados. Houve também um episódio muito engraçado em que, numa das minhas corridas, o levei para cronometrar um tempo, e coloquei-o num local pouco apropriado onde agora carrego o iPod: entre os seios. Sim, leram bem. Dali não salta para lado nenhum, está suficientemente perto da mão para dar uma espreitadela em momentos de desespero…é o local ideal, até chegar a braçadeira que já devia estar disponível em http://www.apple.pt/, mas que teima em demorar. Só que virei o coitado do telemóvel com o visor contra a pele e ele encheu-se de humidade. Nunca mais foi o mesmo…
Troquei pelo da minha Irmã. Mesmo modelo, only black. Ela agora tem uma máquina fotográfica que também recebe e faz chamadas.
E agora, enchi-me de coragem para comprar o modelo que ando a namorar desde a minha primeira auditoria a uma conhecida operadora de telecomunicações (que não a minha) mas cujo preço desbloqueado era simplesmente exorbitante na altura. Nem pensar em mudar de rede outra vez. Out of the question. Passaram 2 anos. Agora a diferença de preço do terminal entre desbloqueado e associado à rede são apenas 10€. Sorri. Nem tudo na vida tem de ser tão difícil…
LG K800, vulgo, Chocolate…only white! É lindo, o meu “bebé”…
Glossário: em linguagem de IT, terminal é o nome que se dá ao aparelho receptor, vulgo, telemóvel.
Adormeci entretanto. Acordei [tenho o sono leve como uma pena] com a minha Mãe a puxar o estore do quarto dela para cima. Também se tinha deixado dormir. Tomámos o pequeno-almoço juntas no café da esquina e descemos a rua até ao mar. Ela foi comprar peixinho vivo para o nosso almoço e eu, fazer o que mais amo de momento e que me deixa lá nos píncaros da felicidade.
Comecei a uma passada pequena, porque marquei no iPod que o treino iria ser de 10Km…estava com a fezada toda! Estava um daqueles dias de sol encoberto, mas que reflecte no mar os raios. E aquele calçadão é lindo (se nos abstivermos de olhar para a monstruosidade do lado esquerdo)! Fui até onde existe calçada e voltei… passei a Praça, passei a Lota. Nenhum sinal da minha Mãe. Comecei a ver umas obras que descobri agora serem as futuras instalações da doca pesca. Parecia o Afeganistão. Depois encontrei a estrada alcatroada que o liga à minha Praia. Fui pelo passadiço de madeira até onde pude, contornei as ruínas do Nikki Beach e fui dar à Marina. Contornei-a, até ter de parar…já ia em 8 Km, mas depois encontrei um enclave de Optimists a prepararem-se para a regata e não havia como passar, sem ser devagar. OK. Parei. Average pace: 5’45’’/Km. Fiquei feliz.
Ao primeiro toque, parece que a areia arranha os pés, mas depois começa a ser uma massagem revigorante…esgueirei-me até à beira-mar. A espuma cumprimentou-me. Fria, mas o céu para os meus pés massacrados. Depois comecei a habituar-me à temperatura. É espantosa a capacidade que o nosso corpo tem de se habituar às condições mais adversas. E o espírito acompanha. A mente é a última a ir, mas com uma boa dose de inconsciência também se treina. Andei uns bons Kms. Rodava em círculos só para ver o sol reflectir-se na água. Cantei a plenos pulmões a acompanhar a música que passava no iPod: Frou Frou e Imogen Heap…mesmo a calhar.
Vim a saber depois que a temperatura rondava os 17ºC, tal como tinha alvitrado.
Amanhã entro…
Domingo, 3 de Fevereiro de 2008
Não entrei coisíssima nenhuma…estava a começar a ficar com os músculos das pernas doridos e decidi give it a break for today.
Obrigações familiares. Uma pequena excursão de 2 lugares ao cemitério de Loulé, onde estão depositados em forma de campa o que resta do corpo da primeira mulher do meu Vô I (MT, se a memória não me falha), do meu Vôzinho, de quem apenas me lembro do seu sorriso franco e da sua incapacidade de conduzir respeitando as regras de trânsito e da minha Querida Vó E.
Todos os santos almoços dos nossos Verões de 3 meses eram passados à mesa dos meus avós paternos, nas Quatro-Estradas. No fim de cada almoço, havia que ir tomar o café fora. Lembro-me que, aos Domingos, o café do costume não estava aberto, por isso tinha de se pegar no carro para ir até à bomba da BP, que fica já na 125. Às vezes, o Vô I oferecia-se para nos levar (à minha Irmã, à minha Vó E e a mim). O Pai disfarçava, mas era sempre preciso levar dois carros e já nos tinha dito de antemão que sempre que fossemos com o Vô de carro era para pôr o cinto. O pior era que a 4L não tinha cintos atrás…
Acho que herdei o meu espírito inquieto dele. Mas só isso. De resto não tenho, dizem, mais parecença nenhuma. Sou toda Caçadinha (vêem? Mais uma alcunha, desta feita do meu avô materno, Zé Caçadinho).
Lembro-me de como ela pousava os braços na cadeira quando se sentava, de como ela punha a mão para puxar os óculos para cima no nariz, de como ela inclinava a boca no sentido da nossa bochecha para nos cumprimentar com beijinhos, de como enrolava os dedos dos pés dentro dos chinelos no Verão, lembro-me das manchas de velhice nas suas mãos e da sua enorme papada no pescoço. E lembro-me de que sempre usou o cabelo curto e escorrido. Aos 86 anos, apenas tinha uns míseros cabelos brancos nas fontes. Toda a restante cabeleira fininha era escura como a noite. Infelizment, não herdei a sua cabeleira. A minha é igual à da minha Mãe, que por sua vez, é igual à da minha Vó Palmira: farta, crespa, cheia de remoínhos e branca. Lembro-me que nunca a vi de calças nem de pijama. Herdei dela a mania do saco de água quente.
Lembro-me de como ela sempre vinha à porta, fizesse chuva ou fizesse sol, acenar-nos adeus sempre que partíamos. Já nos íamos embora, quando ela “dava de vaia” ao meu Pai para lhe dar um último conselho de Mãe. Elle ficava completamente abespinhado, mas lá abria o vidro sem paciência nenhuma para a ouvir.
Herdei a mobília que o meu avô talhou com amor à minha avó. Uma cama, duas mesinhas de cabeceira, um toucador com um enorme espelho, um roupeiro e uma cómoda. Da sala de jantar, herdei a mesa e as cadeiras e mais duas cristaleiras. Lindas. Um dia, quando Deus quiser, vou restaurá-la. Herdei ainda um par de brincos em ouro branco e brilhantes que Vó E trouxe da Venezuela. Só os uso em ocasiões especiais. A minha Irmã preferiu os redondos simples. No seu casamento, usei os segundos, os preferidos da minha Irmã e ela, por sua vez, usou os da Vó P.
A campa deles está sempre impecável. Tirei a vela gasta do candelabro e acendi uma nova. Cortei as ervas e flores que teimam em crescer na terra à volta. Ajoelhei-me. Pelo sinal da Santa Cruz, livre-nos Deus Nosso Senhor, Dos nossos inimigos, Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ámen. Pai Nosso. Avé Maria. Glória ao Pai. Sinal da Cruz. Minha Mãe e eu éramos as duas únicas pessoas dentro daquele cemitério. Nem vislumbre do coveiro. Era cedo, pensei.
Depois a excursão continuou, mas para o Cemitério de Quarteira. Gaveta do Vó Z. Gaveta da Vó P. Oração prolongada. Gaveta do M. Jazigo do Ti E. Campa da Vó P. 4 gerações de mortos. Oremos ao Senhor e demos Graças por descansarem na Paz do Senhor e por continuarem a olhar por nós, lá de cima. Sobre os Caçadinhos falarei mais adiante, num outro post, num outro dia.
Depois disto, que é sempre extremamente doloroso, desanuviámos com uma ida ao Horto da Fonte Santa. Comprei uma Yuca para a minha sala. Linda. Parece uma palmeira só que não é. E comprei, para substituír a orquídea que assassinei, uma espécie de couve roxa não comestível. Exótica.
Passámos em casa da Prima Lurdes. Colhemos limões e clementinas.
Almoçámos os melhores salmonetes do mundo (o meu peixe predilecto) com saladinha de alface e coentros, batatinha cozida com pele e o belo do pão alentejano a empapar o azeite, mas só por cima da batata. Só os montanheiros (toda a gente criada acima de Loulé) é que cometem o crime de temperar o pexinho.
Ao fim da tarde comecei um dos melhores livros que já li…mas sobre isso falo amanhã.
Segunda, 4 de Fevereiro de 2008
Este livro foi-me apresentado por MT, a minha colega do lado, com uma frase que me deixou com a pulga atrás da orelha: disse-me que este livro continha o nosso tipo de humor, aquelas piadas de que só ela e eu nos rimos. Não lho disse, mas fiquei surpreendida com o facto de este ser um traço de personalidade por ela denotado e apreciado.
Não tenho pretensões de elaborar uma crítica ao livro. Apenas queria aqui deixar ficar umas quantas das minhas frases predilectas e fazer um breve resumo da história. Ah, e enaltecer o belíssimo trabalho do tradutor, Miguel Serras Pereira, cujo trabalho muito admiro.
O resumo: Um velho judeu, com medo de morrer sozinho, enfrenta com um humor muito especial os seus últimos meses de vida, junto ao seu amigo e vizinho de longa data. A história entrelaça-se com outra de uma menina de 14 anos, Alma, cujo nome foi herdado da personagem de um livro que seu falecido e venerado Pai oferecera a sua Mãe e que era o livro do seu amor. Outro mosaico aparece ainda, narrado pelo pequeno irmão de Alma, que julgava ser o novo Messias. E, por fim, outro mosaico narra a história do suposto autor do célebre livro. Esqueci-me apenas de dizer que as histórias cruzam-se e entrelaçam-se em tempos distintos, como se fosse um policial cuja narrativa avança e retrocede.
Comecei-o ao fim do dia,no conforto preguiçosos da minha cama. Li mais um pouco na manhã seguinte, numa cadeira de esplanada enquanto fazia fotosíntese, depois de ter corrido 8 Km. Acabei-o ao pôr do sol, junto à praia.
Passagens predilectas:
«A primeira linguagem que os humanos tiveram foi os gestos. Não havia nada de primitivo nesta língua que brotava das mãos das pessoas, nada que hoje se diga que não pudesse ser dito nesse imenso rol de movimentos possíveis com os ossos finos das mãos e dos dedos. Os gestos eram complexos e subtis, envolvendo uma delicadeza de movimentos que se perdeu completamente desde então.
Durante a Idade do Silêncio, as pessoas comunicavam mais e não menos…»
«…Naturalmente, também havia mal entendidos. Por vezes, um dedo podia ser erguido apenas para coçar o nariz, e no caso de haver contacto visual fortuito com um amante nesse preciso momento, então o nosso amante poderia tomar acidentalmente esse gesto, em tudo idêntico, ao que usaríamos para dizer, Agora percebo que fiz mal em amar-te. Esses mal entendidos eram de partir o coração. No entanto, como as pessoas sabiam como era fácil eeles acontecerem, como não viviam na ilusão de se entenderem perfeitamente umas às outras, estavam habituadas a interromper-se umas às outras para perguntar se tinham entendido bem. Às vezes estes mal entendidos eram até desejáveis, pois davam às pessoas o ensejo de dizer, Desculpa, estava só a coçar o nariz. Claro que sei que fiz bem em amar-te. Devido à frequência destes erros, com o tempo o gesto para pedir perdão evoluiu para uma forma mais simples. O simples gesto de abrir a palma da mão passou a querer dizer: perdoa-me.»
«Morreu sozinho, porque tinha vergonha de telefonar a alguém.
Ou então morreu pensando em Alma.
Ou quando decidiu não o fazer.
Na verdade, não há muito mais a dizer.
Era um grande escritor.
Apaixonou-se.
Foi a sua vida.»
Terça, 5 de Fevereiro de 2008
Acordei com o chilrear dos passarinhos outside my window. Tomei uma enorme taça de cereais, vesti o equipamento e decidi ir correr novamente, desta feita, para a Quinta do Lago.
Enterrei os pés na areia quente, desenlacei a camisola da minha cintura, senti as pingas de suor escorrerem rosto abaixo. Uma família de estrangeiros (loiros) fazia um enorme buraco à beirinha. Caminhei em direcção ao sol, para junto do mar. Molhei os pés na espuma fresca. Hoje seria um bom dia de mergulho, não fosse eu ter um medo terrível de praias não vigiadas. Medo ao mar. Não tive coragem!
Paradigma de IV às quarta-feira, fevereiro 06, 2008 0 Paradigma(s) do Outro