segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

União Zoófila


Os meus grandes amigos, P, H e I fizeram uma joint venture para me oferecerem aquilo que mais queria como presente de aniversário: um(a) gatinho(a)!



Desde miúda que criei uma empatia especial com gatos, que nunca consegui criar com cães. Não que não goste de cães, antes pelo contrário, amo cada criatura viva.



Mas a minha falta de empatia com cães deve-se a um longo historial:



# 1 - Em pequena, durante as férias, havia, em casa dos meus avós maternos, um pastor-alemão extremamente perigoso, o Rex, que não tinha respeito por ninguém, excepto a quem lhe levava comida. Um dia, soltou-se e mordeu umas visitas que os meus tios recebiam. Tivemos que nos trancar em casa enquanto o cão estava solto, e resistir às suas investidas sobre a nossa porta. Assustador, para uma miúda de 6 anos, já de si medrosa .



# 2 - Em férias, os meus Tios tinham sempre em casa o hábito de ter um cão de companhia. Como não me conheciam bem, o tempo de habituação era sempre imenso e, como os cães sentem o medo, estava sempre em desvantagem em relação a uma possível aproximação. A seguir ao Rex, veio o Pucky, um boxer, depois um salsicha que não me lembro o nome, depois a Fera, outro pastor-alemão e por fim a Shen, uma labrador castanha de olhos claros. Linda!



# 3 - Durante o ano, e a partir dos nossos 15 anos, a minha amiga I tinha o Spa, um cocker spaniel dourado, muito burro mas muito afectuoso. Como o conheci em bebé, estabeleci as regras desde o início. Quando me via, não me saltava com as patas para cima e não me dava lambidelas. Ao contrário, quando sentia que devia, chegava-se ao pé de mim e baixava a cabeça. Aí sim, dava-lhe festinhas intermináveis e às vezes, em lucky days, deixava-o saltar para o meu colo. Tive um desgosto enorme quando ele se foi. Agora a I tem o Blackie, outro cocker spaniel, mas azul ruão. Em brincadeira, digo que é um Spa mas queimado.



# 4 - Um episódio traumático. Vinha da escola, nos meus 12 anos com o meu bom amigo (quase-irmão) B, quando um cão se solta da trela do dono e vem cravar os seus dentes pontiagudos na minha perna. Era um pastor-alemão. Dor lancinante.



So, embora os ame enquanto criaturas, temo-os (agora menos, que cresci).



Gatos sempre tiveram especial empatia comigo e eu com eles. Gosto da sua suposta independência, do alto da sua soberba. E gosto das suas reacções imprevisíveis. Vêm pedir colo e festas quase magneticamente. Admiro-os e não é de agora.



# 1 - O primeiro (e único) gatinho que tive veio ter a casa dos meus avós paternos e era de pelo branco e grande, olhos azuis. Dei-lhe comida e confiei na minha Vó E para tratar dele enquanto estivesse em Lisboa (devia ter os meus 9 anos). No Natal, deu-me a triste notícia de que o pastor-alemão do vizinho o tinha levado pelo cachaço com muita convicção e que ele, o Gato, não tinha resistido.



# 2 - P tinha a gata mais querida do mundo, a Paulina. Era branca e preta. Um doce. Convivi com ela quase diariamente durante 4 anos. Infelizmente adoeceu e já não está entre nós.



# 3 - Depois houve a Cuca Maluca, uma gatinha completamente desvairada e selvagem. Só P a conseguia trazer ao colo e fazer-lhe as judiarias do costume.



Por isso, sempre tive o sonho de ter um. E estes meus amigos sempre souberam disso. Agora, andaram à procura, que nem uns perdidos, de um gatinho pequeno para mim, mas não conseguiram encontrar. Ao que parece, as gatas costumam ter o cio em Fevereiro/Março, pelo que dificilmente arranjariam gatinhos pequenos por esta altura. E depois, houve o Natal...



Em desespero de causa, decidiram ir à União Zoófila, em Sete Rios. Acompanhei-as, quando me contaram a enorme surpresa que me estavam a tentar preparar.



Estacionámos o carro à porta. Uma confusão reinava e um cheiro pestilento pairava no ar. Para ir ao Gatil, precisamos de atravessar quase todo o canil. Só no espaço da entrada estavam pelo menos 10 cães com o ar mais infeliz do mundo. Eram todos rafeiros, com o pêlo mal tratado, definhados e magros, com olhos carentes. Partiram-me o coração. Outros havia confinados em pequenas boxes de arame, mais violentos ou em recuperação. H reparou num que tinha o pêlo completamente queimado. I distribuia as suas festas a quase todos os que encontrou. Eu estava em estado de choque. O cenário era um murro no estômago. São cerca de 600 cães, encontrados ou salvos dos carrascos do Canil da Câmara Municipal.





Enfim, passando para o Gatil, reparámos que as condições melhoraram drasticamente. São cerca de 200 gatos, mas o espaço mais arrumado e limpo. Os gatso aparentemente menos carentes. Too late! No sábado, havia 3 piquenos gatos que tinham sido doados. Os gatinhos "é" como as crianças para adopção: os bebés têm mais "saída". Dos crescidos, havia os saudáveis, os infectados com FIV (a SIDA dos gatos) e os doentes com FELV ( a Leucemia dos gatos). Ainda esperei que houvesse algum, doente ou não, que me falasse ao coração, mas não. Talvez o meu coração tivesse ficado momentaneamente morto só de ver os coitados dos cães. Decidi pensar.



Hediondo, o Homem. Crueldade. Desumanidade. Falta de civismo. Desresponsabilização. Desolação. Como pode haver alguém que acolha um animal e depois o abandone à sua sorte?

E como pode uma organização que trabalha arduamente em prol dos direitos dos animais não ter apoio nenhum do Estado, dependendo apenas de "mecenas", patrocinadores e sócios ausentes? E pior, o Estado ocupar-se em abater os animais abandonados, em vez de gastar o mesmo dinheiro em educação cívica (quase que escrevia física - também precisavam!)...



As quotas, caros ouvintes, são de apenas €25 anuais. O que custa isso? São só dois almoços...



Eu vou!!!!




3 Paradigma(s) do Outro:

Unknown disse...

Olá olá

Queria apenas dizer-te que tenho lido o teu blog e tenho-me comovido imensas vezes.

Qto aos gatos partilho a tua paixão. E tenho imensa pena de, actualmente, não poder ter uma pestinha dessas. mas deixá-lo sozinho todo o dia é uma tristeza.

Ter um animal é uma responsabilidade, não apenas uma diversão. Carinho, liberdade e alimentação, são as três coisas indispensáveis para se tratar de um gato/cão.

Experimenta nos veterinários, geralmente têm gatinhos para dar.

beijinhos
Patrícia

Vasco Ribeiro disse...

Cara Inês!
Realmente os gatos têm outro impacto em nós. Sempre tive cães e pensava que eram inteligentes e espertos mas agora tenho 3 gatos, um deles igualzinho ao que está na foto e são bastante mais inquientantes e inteligentes que qualquer cão... São lindos, e com personalidades bem vincadas. Todos os meus gatos foram "adoptados" em instituições para gatos abandonados. Não custa mesmo nada, é chegar lá e trazer. Os meus gatos dão vida à casa e ... estragam tanta coisa... :)
Um beijinho
Vasco Ribeiro

Vera disse...

Pois é, também não compreendo como alguém pode ser capaz de abandonar um animal. E os gatos...tornam-se numa paixão mesmo para aqueles que à partida nem lhes acham muita piada.

Mas olha, se queres um gatinho, vai às lojas de animais (têm sempre lá imensos anúncios ou mesmo gatinhos para dar na própria loja) ou procura na net. Pelo menos foi assim que eu adoptei os meus 3 "pestinhas" :)

Beijinhos