sábado, 20 de dezembro de 2008

Churrasco de Natal


Pára tudo.


Pá-ra tu-do.


Hold your breath.


Estava eu na fotocopiadora quando no placard das notícias vejo um convite para o Churrasco de Natal. Chego ao meu open space e exclamo:


- Eilá, churrasco de Natal?!?!


Sou olhada com aquele olhar fulminante que as minhas colegas me emanam sempre que os meus saltos são superiores a uns míseros dois dedos. Só que desta vez não foi por isso.


Parece que é tradição lá na empresa. Há um conjunto de colaboradores que se juntam e organizam a festa com a Direcção de Comunicação e Imagem para todos os outros colaboradores da nossa e das restantes empresas do grupo. Somos mais de 1000 e ainda nem recrutámos para Angola.


Desde as 3 da tarde, hora a que cheguei do almoço, que os senhores do catering montaram dois enormes gingarelhos de fazer rodar os coitados dos porcos acabadinhos de matar e empalar e desatam a assá-los como se não houvesse amanhã.


Temia o pior. Durante a tarde, lembrei-me de fazer as fichas de identificação de resíduos com os respectivos códigos LER para colocar nos enormes contentores. O Churrasco era nada mais nada menos que no interior da oficina.


No interior da oficina...


Ainda bem que somos uma empresa conscienciosa. Os manobradores e mecânicos estiveram toda a tarde com a máquina de lavar o chão para que o cinzento da tinta epoxi brilhasse naquele evento. E brilhava.


Quatro enormes mesas feitas das bobines de cabo eléctrico dispunham o pão caseiro cortado às fatias, os refrigerantes, uma mesa só de tintol e outra só de doces de Natal.


Lá fora, um dos Directores de Obra da Electricidade esquartejava os porcos e assava "as chouriças", as maravilhosas farinheiras, as morcelas...


Um dos Administradores serviu-me de chouriço e o animal do Esquartejador colocou sobre o meu pão um pedaço enorme de carne (ainda se viam os pelinhos chamuscados) cheio de gordura.


Rezei 3 Pai Nosso e 4 Avé Maria antes de provar aquele atentado à minha integridade. Odeio matanças de porco, odeio carne com gordura, odeio comer com as mãos (até acho que nem o sei fazer, tirando para o marisco).


Demorei décadas a deglutir aquilo. Mas fi-lo. E com um sorriso na cara. O Patrão veio cumprimentar-me com dois beijinhos repenicados na face e um elogio rasgado à minha beleza.


Agradeci, como compete.


Estava lá a nata. Senti falta dos meus preparadores, do pessoal da unhaca cheia de cimento, do pessoal da vala e dos postes.


Soube no outro dia que, graças ao Administrador do Chouriço não fui parar permanentemente a uma obra na Refinaria de Matosinhos. Soube que ele disse "Não a vamos estragar já.". Eu acho que teria gostado, mas eles sõ vêem a casca.


Ao invés, decidiram dar-me a responsabilidade de passar a gerir a parte da Construção Civil em paralelo com a da Comunicações e Sistemas de Georeferenciação, a minha preferida.


Foi uma espécie de promoção na horizontal, salvo seja. Era o meu objectivo secreto, sobretudo agora que bámos alargar os horizontes da construção para Angola...


Não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe.


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