segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Estropício n.º 3


Hoje invadiu-me a vontade de fazer a boa acção da semana. Peguei no téréré, liguei aos "Helicópteros" e perguntei:


- Oláaaaaaaaaa. Bora ao Ikea buscar a célebre estante?

- Hoje?!?!

- Sim, hoje. Porquê?

- Nada. Vamos sim.


Combinámos os pormenores práticos do encontro.


Fui buscar a donzela a casa. Estava sem muita paciência quando lhe liguei para ele ir descendo, porque ele vai e pergunta:


- Mas estás em que entrada?

- Como em que entrada? Só conheço uma e estou nessa... [as if a Laide pudesse estar na entrada dos serviçais]

- Ah, é que há duas e eu nunca sei...

- [pois agora ficas a saber]


Apareceu. N'A Entrada. Sorriu. Pela primeira vez na minha vida, achei-o bonito. E percebi logo porquê...


Sentou-se na minha bomba e queria cumprimentar-me mas eu gerei uma confusão à sua porta e estava um verdadeiro engarrafamento. Seguimos e, mais adiante, aproveitámos um sinal vermelho para trocarmos beijos na face, muito carinhosos, como de costume...


- Olha, já tens fome ? [please, please, please]

- Sim, podemos ir já jantar, se quiseres. [cavalheiro como sempre]


Antes, passámos só pelo meu Banco para depositar um presente de Papai, que me vai dar imenso jeito quando for a Madrid e quiser trazer de lá um daqueles presentes dispendiosos com que adoro mimar-me quando viajo. Fica de recuerdo e fica para sempre.
Passou-me de imediato para o lado de dentro do passeio, não sem antes colocar a sua mão perfeita na minha cintura (coisa que eu odeio que me façam e ele sabe, que eu cá tenho a minha bolha). Engraçado como até isso muda quando estamos com Aquela pessoa...


Abordei-o, trocista:


- Com que então a seguir os meus conselhos sábios?

- Quais conselhos, Minha Querida? [sonso]

- Camisa aberta e sem t-shirt por baixo, mangas arregaçadas...

- Já há algum tempo que o segui, mas como a Menina ainda não me tinha dado tempo de antena não pode aproveitar...Mas a Menina gosta, é?

- Ficas com um ar muito mais fresco...e esse bronze fica-te a matar...

- Foi do Rally...

- Não me digas que voltaste às competições?!?! [contente da vida]

- Não...foi o helicóptero-ambulância destacado...


Vi de imediato que a pergunta foi inconveniente e perturbadora. Queria o efeito oposto. Ele costumava correr como co-piloto do Pai, que já faleceu faz uns aninhos largos. Mas enganei-me quanto ao clima:


- Olha, vai haver aí umas provas...um dos organizadores muito amigo do meu Pai convidou-me, e eu gostava de te levar...

- P, esquece, eu ia lá agora passar um fds inteiro aos saltos dentro de um jipe contigo?

- Pois, tu não és desse tipo...

- Não, eu até sou desse tipo, mas tinha era de estar perdidamente apaixonada por ti...

- [riu-se com aqueles olhos reluzentes]


Fomos a um restaurante em Telheiras totalmente despretensioso, que eu com ele ando sempre a evitar sítios românticos, não lhe vá dar ideias inatingíveis, o Espai Café. Eu pedi um risotto de cogumelos selvagens e ele o tradicional bife à Portuguesa. Odeia variações. Bebe sempre água fresca (Verão ou Inverno), come sempre o mais simples que o menú tiver. Eu já faço apostas mudas em como sei o que ele vai pedir. E sim, ele nunca me surpreende.


Falámos, rimos, partilhámos garfadas suculentas (mais ele que eu, porque risotto é muito à frente e "parece que leva queijo").


Fomos ao Ikea. 2ª circcular caótica. Fomos por Belém. Ele adora ser passeado.


Chegámos. Só me lembro que preciso disto e daquilo e daquele outro quando lá estou. Tão querido, ia carregando com tudo nos braços, apesar do meu protesto. Às páginas tantas, vejo ao longe aquilo que me parecia ser a figura do Estropício n.º 3 ao telemóvel. Fiquei parada.


- Olha, acho que vai ali um dos meus ex [comento]...

- Queres que te abrace?

- Claro que não! [está doido, fazer ciúmes ao ex é tão estúpido como beber água destilada]

- Oh, rapariga, aquele ali do fato azul escuro?

- Esse mesmo. É ele...[só pelo andar]. Não o quero ver por isso vai andando que eu escondo-me atrás de ti [afinal ele tem mesmo um belo de um metro e oitenta e três]

- Mas porquê?

- Porque jurei-lhe que ele nunca mais ouviria o som da minha voz na vida, porque nunca mais lhe atendi o telefone, nem respondi às suas constantes sms's e postais de Natal.

- Mas porquê?

- Porque ele me traiu. [saiu-me]

- [engliu em seco] Ui. Já vi que isso deixou marcas.

- Não foi a traição, foi a mentira. Não teria deixado marca tão profunda se ele não tivesse terminado comigo porque, ah e tal, estava confuso, não era eu, era ele. A mentira é que me deixa irada. Podia perfeitamente ter-me dito que, enquanto estava a trabalhar na Bélgica e me dizia que ia passar o fds com uns amigos a Amesterdão (com o meu total apoio), andava na realidade em Amesterdão (esta era a parte da Verdade) mas com um camafeu-colega-lá-da-consultora-seguramente-menos-exigente. Teria eu compreendido melhor. Ah, e não teria perdido o meu precioso cabelo, meses de sono e idas ao psicólogo para aliviar a depressão.


Olhou para mim, incrédulo.

- Como é que uma mulher como tu é traída?

- [Encolhi os ombos. Na realidade, ninguém está livre disso, seja-se a Mulher mais Perfeita do Mundo, seja-se a Menos Perfeita]


No finalzinho da nossa volta pelo Ikea, não é que o estropício fica mesmo de frente para mim, e me cumprimenta com um educado "Olá, tudo bem?".


A minha vontade era ter respondido "Agora que te vi, já não.". Aqui a Laide coloca o seu melhor sorriso e responde "Tudo bem". Quebrei a minha jura. Mas não me senti menor por isso. Afinal, ele é NADA para mim hoje.


Apeteceu-me escrever isto para que fique para a posteridade uma das coisas que aprendi com este n.º 3:


Nunca confiar num homem confuso. Eles também não confiam em si próprios...






1 Paradigma(s) do Outro:

Anónimo disse...

"- Não foi a traição, foi a mentira."

Concordo a 100%!

Lealdade vs Fidelidade.

Mesmo que nos traiam, que ao menos nos respeitem assumindo cara a cara que já não lhe significamos a mesma coisa.