Todo sobre mi madre
Caros leitores,
Como sabem, sou fã de nuestro hermano Almodóvar. Amo cada centímetro de fita que ele grave, independentemente de passar a "censura" da montagem ou não.
Ele filma como quem vê a cena de dentro, como quem já a viveu interiormente, como quem perde objectividade e, ao mesmo tempo, lhe dá um toque cruel de realidade.
E quem vê com o coração merece todo o meu amor. E quem vê com os olhos da mente merece todo o meu respeito.
Um destes dias, senti que me fazia falta ganhar umas noções de perspectiva. Às vezes, tudo o que precisamos é de subjectivar os nossos "problemas" para percebermos o que realmente importa na vida.
E fui à minha cinemateca pessoal (podia dar-me para pior, no que toca à minha incessante procura pela perspectiva de vida), peguei nos dramalhões todos que lá tinha, espalhei-os sobre o meu tapete vermelho e escolhi este, mas confesso que não me estava nada a apetecer tanto sabor.
Este filme foi-me trazido pela mão por um grande grande amigo que mo ofereceu num aniversário distante, e foi com ele e mais outro, formação inicial do Trio Maravilha da Sexta à Noite, com quem o fui ver ao cinema pela primeira vez.
Saí do cinema arrasada (pior, só com A Paixão de Cristo, em que não consegui articular palavra durante dois dias inteiros).
Nenhuma mãe devia conhecer a dor de perder um filho. Nenhuma mãe devia ver o coração do seu filho transplantado no peito de outro homem ou religião.
Claro que o drama sai aligeirado por uma Agrado. E pelas belas paisagens de Madrid e Barcelona. But it's still a drama!
Todo sobre mi madre toca-me por variadíssimas razões. Porque não tendo perdido um filho, o vi acontecer perto demais. E senti aquelas dores como minhas. E foi um autêntico pesadelo. Um trágico acidente.
Hoje entendo a perda de uma outra maneira, mas naquela altura nada tive a que me agarrar, se não às minhas convicções régua e esquadro de ateia.
O filme veio já em 1999/2000, quando me começava a acostumar com a ideia de que tudo acontece por uma Razão Maior. Naquela altura, foquei a minha atenção no drama da Mãe que perde o Filho num estúpido acidente.
A idade (e tudo o que vivi ever since) mudou a minha perspectiva, até da leitura do filme.
O revisitar da película obrigou-me a olhar mais profundamente para o amor que duas mulheres dedicam ao mesmo homem, no caso, a Lola:
- A mulher madura, amou o homem quando ambos eram jovens e renegou esse amor por sentir amor maior pelo seu recém concebido filho e entender que nunca poderia dar uma vida normal à sua cria. Chama-se a isso, instinto maternal. Prevalece. Só que, mais tarde, sente o chamamento do dever e apresenta o seu filho morto ao pai. O amor transformado em respeito.
- A mulher jovem, amou o mesmo homem já (supostamente) maduro, apesar dos seus impedimentos religiosos, e decide dar vida a uma criança seropositiva, sacrificando a sua própria vida. Mais uma vez, instinto maternal. A Love to Die For... O amor transformado em vida.
Só para contrariar a máxima "De Espanha, nem bons ventos, nem bons casamentos!".
1 Paradigma(s) do Outro:
Gostava por dizer que gostei muito desta frase" E quem vê com o coração merece todo o meu amor." Muito boa. Quanto ao filme é sem dúvida uma pérola. Gostei muito!
Aquele Abraço,
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