sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Um certo "je ne sais quois"


Um post inteiramente dedicado ao bicho homem. E às generalizações abusivas. Apetece-me.


Antes de mais, sim, bicho. Porquê bicho?


Para nós mulheres, que nos esforçamos por entendê-los e, mesmo com muito esforço, e por mais inteligentes que sejamos, não conseguimos, ao fim ao cabo, consideramos o homem um bicho estranho.


Feito à nossa imagem (ou nós à deles, embora esta questão nos possa levar a outra dissertação noutro post que não este), da mesma carne, da mesma matéria, dos mesmos átomos pequeninos que lhes constituem as moléculas, que, por sua vez, lhes constituem a mesma pele e quase todos os mesmos órgãos, são, no essencial, muito diferentes de nós mulheres.

E eu, com a mania das igualdades, considerava-os pessoas. Pessoas. "Normal", diria a minha amiga C com aquela entoação tão característica. Pessoas. Normal.


Não deixam de ser. Não os quero ofender. Sim senhor, são pessoas. Mas hoje são bichos, por absurdo. Hoje apetece-me provar a minha teoria recém formada por absurdo. Havia a forma directa, mas essa é uma verdadeira seca. Vamos ao absurdo?


Dêem-me então o braço, que eu guio-vos nos meandros do meu raciocínio tortuoso.

Passei a sexta-feira e o sábado a inquirir uns bichos desta espécie. Fiz-lhes as mesmas perguntas. Bem, perguntei muito mais a uns que a outros, apenas porque com uns me sentia mais à vontade que com outros para perguntar certas cenas de sua intimidade, digamos, sexual. Com os outros, fquei-me só pelas perguntas da intimidade mundana.

Pergunta # 1 - Como é que o bicho se apaixona?


Enganem-se minhas amigas se pensam que "aquele olhar", "aquela mensagem", "aquele toque" e todas as circunstâncias maravilhosas que vos rodeiam e vos fazem sentir nas nuvens querem dizer "estou apaixonado por ti".


Numa fase inicial, nenhum bicho está apaixonado. O coração do bicho não está por baixo da pele, do músculo e do osso? Então! O bicho quer dizer com "aquele olhar" nada mais nada menos que "quero saltar-te para cima". Ponto final. Make no mistake.


O bicho não se apaixona à primeira vista. Nem à segunda. Nem à centésima. Duvido muito que se apaixone pela vista. Hoje, duvido até que se apaixone. Que sinta. Vá, mas não vamos tão longe. Fiquemo-nos só por aqui.


O bicho não usa (muito) o cérebro. Isso é só para as horas livres, aquelas em que está a pensar no trabalho, no futebol, nos carros e vá, pronto, alguns espécimes poderão pensar até na imanência do ser. Mas nas horas livres.


A maior parte do dia, não se enganem, é em mulheres que eles pensam. Pensam? Passa-lhes pela cabeça.


Mas não estão a pensar em como foi lindo andar de mão dada convosco no meio da rua, como as vossas mãos encaixam bem, que bonita a mensagem que receberam na manhã seguinte, que quando se beijam ele deixa de sentir os pés no chão.


O bicho, na realidade, está mas é a pensar nas vossas mamocas. Ou nas de outra mulher qualquer. Isto, na melhor das hipóteses.


(lá estão vocês a pensar "ai mas o meu Amorzinho não é nada assim" ou "não, o Fofinho não é como a maioria dos homens" ou "lá está a ressabiada da I" ou "não podemos generalizar"). Whatever.


Amigas, hate to disapoint you, mas eles são mesmo TODOS iguais.


Oh, não! E agora? Que fazer com esta informação preciosa? Como contorná-lo? Como sobreviver a isto?


Pois, esclareço-vos já que não adianta de nada retardarem o momento em que entregam o ouro ao bandido. Isso só lhes faz exponenciar o prazer da caça à donzela (e caçar, está-lhe nos genes, é o que eles sabem fazer melhor).


Fazerem-no, para além de ser incrivelmente careta, porque na fase em que vocês estão, isto é, em ponto de rebuçado, também vocês desejam cair-lhes nas garras, é uma verdadeira estupidez. Negarem-se esse prazer em pleno século XXI? Por favor... Uma mulher não é de ferro.


E se uma mulher não é de ferro, do bicho então nem se fala. Oferece-me dizer que nem de m*r*a é. Mas não digo. Sabem a história dos 3 porquinhos?


Um sopro na orelha e já estão desarmados. Ou armados, depende da perspectiva.


But where was I? Ah, sim, como contornar a dura realidade.


# 1 - Joguem o jogo.


Os bichos são assim e vocês para aí a pensar que os podem mudar. Não podem. You just can't. Então, joguem o jogo, mas com astúcia.


Qual jogo? O do gato e do rato? Não, minhas queridas, o da sedução. Bem, vai dar ao mesmo. Se já sabem que "o que tu queres sei eu" e que o amor o mais certo é não vir depois, but still apetece-vos tirar umas lasquinhas, by all means do it...


# 2 - Não percam de vista o coração.


...however, não percam o vosso coração de vista nem por um segundo. Next thing you know, ele já não mora lá, na vossa cavidade cardíaca, quase no meio dos pulmões. Mudou-se para as mãos do bicho, de armas e bagagens. E nem deixou bilhete de despedida, o ingrato.


Um amigo querido um dia disse-me uma coisa que jamais esqueci e que se comprova mais verdadeira que a teoria heliocêntrica: nós apaixonamo-nos, não enquanto estamos com o nosso bem-querer, mas depois, sozinhos com os nossos pensamentos e recordando.


Segundo a teoria psicológica, o pensamento precede o sentimento. Usem esse poder. É só querer. Como?


Bem, se a maioria das mulheres for como eu, a seguir a um encontro "perfeito", tudo o que quer é ser esquecida pelo mundo durante uma década para poder relembrá-lo 347 vezes por dia sem interferências externas. Contrariem esta tendência feminina à fantasia, à recordação. Por amor de Deus, não se ponham a relembrar 347 vezes por segundo nas palavras doces que o bicho sussurrou ao vosso ouvido, na maneira incendiária como ele vos olhou nos olhos, no toque de veludo da sua pele.


Ocupem-se. De preferência tomem um comprimido dose de cavalo para dormir.


Ah, ah! Não vale uma ida ao cinema. Em vez de estarmos dentro do filme, estamos é a distrair os olhos enquanto pensamos no bicho. É ou não é?


Também não vale desportos solitários, como correr ou nadar.


O que vale mesmo é combinarem uma saída com um grupo de amigos animado, que exija a vossa presença de espírito. Ah, e esqueçam combinar com aquelas amigas(os) a quem contam (quase) tudo. Falar é meio caminho andado para sentir.


Um dia de cada vez. Sempre no presente. Esqueçam o passado. Evitem fantasiar futuro. Presente. Focus. Presente. O máximo de futuro que podem pensar é no que é que vão almoçar dali a duas horas.


Porque a vida ou o destino ou Deus (para os crentes) tira-nos o tapete mesmo antes de aterrarmos. Previnam-se.


# 3 - Façam tudo o que vos apetecer.


Não há receita. Acontece se tem de acontecer.


Por mais bombásticas na cama (ou mesmo no elevador), por mais inteligentes na sala de aula, por mais eloquentes no palanque, por mais ladies na mesa, por melhor lasagna que cozinhem, por mais amorosas que sejam com os vossos avós, por mais altruistas com os desfavorecidos, por mais stunningly beautiful, por mais sentido de humor, esqueçam tudo isso.


Nada disso conta. No fundo, nada conta a não ser "à hora certa, no sítio certo". Uma questão de mera sorte.


Mas não esperem que isso aconteça. E sobretudo, não se ponham a acreditar que tudo pode mudar de um momento para o outro.

O mais provável é que, passadas umas semanas em que tudo parecia correr bem, ou antes, em que vocês fecharam os olhos, condescendendo com algumas falhas que temos a tendência, digamos, estúpida, de perdoar, o bicho vos dê a conversa "um dois três" (abreviando, 123). E perguntam vocês o que é isto da conversa 123? Bem, conversa 123 é:


1 - Temos que falar.


2 - Não és tu sou eu.


3 - Vamos dar um tempo.


Aposto que ao longo da vossa vida, pelo menos uma vez, já deram ou levaram com a conversa 123. É mais velho que o cuspir na sopa.


Então, o que esperam? A conversa, mais dia menos dia, vai chegar. E não há nada que esteja ao vosso alcance para o evitar.


Aproveitem ao máximo o bicho enquanto o têm por perto, porque nada dura para sempre.


É que depois o bicho começa a sentir-se sufocado, com tendência a fugir-vos das mãos que nem lesma ensebada, a não atender o telefone à primeira, a demorar 5 dias para vos responder a uma simples sms. Sintomático. Típico.


O bicho domina com mestria a arte de not getting caught. O melhor mesmo é aprendermos também a fazê-lo: a nossa saúde mental agradece.


E quando se apaixonam, nem eles sabem bem dizer como é que foi ou porque é que foi. Alguns responderam-me que "é tipo uma dor de barriga; não, não é dor, é uma sensação esquisita". Achei querido, como uma criança de 5 anos a descrever uma gastroentrite.


Os outros responderam que foi com o tempo e quando repararam já lá estavam. Lamento desapontar-vos mas a isso não se chama apaixonar; chama-se antes amar ou consentir.


Os meus escopriões preferidos, como racionalizam tudo, devolveram-me a pergunta com "o que é isso do apaixonar?". Está tudo dito, não está?


Pergunta # 2 - O que é que o bicho faz para lhes cairmos nas garras?


Resume-se tudo a uma questão de cenário. Segundo os inquiridos, montar o cenário é dizer, por exemplo, que se foi surfar. Surfar tem cenário.


Ou vestir aquela t-shirt porque é um "ganda" cenário.


Pensava eu que eles não se esforçavam por isso. Mas o bicho monta a armadilha, ou melhor dizendo, o cenário. Se não vejamos:


# 1 - O bicho age no momento certo e gere as nossas expectativas como um MBA. Se fomos tomar um café, mal acabamos de pôr a cabeça no travesseiro, o bicho manda uma sms recheada de galanteios irresistíveis. Se vamos ao cinema, o bicho abre-nos a porta, ajuda-nos com o casaco e ainda escolhe o melhor lugar para nós. Se vamos jantar, discretamente paga a conta. Amigas, evitem tudo isto. Evitem responder a provocadoras sms, sejam proactivas. Liderem. Paguem a conta se for preciso. Mostrem-lhes quem manda.


# 2 - O bicho faz a barba (comigo, digamos que prefiro barba de 3 dias, portanto não colhe).


# 3 - O bicho põe perfume (comigo, digamos que ADORO um bom perfume mas como a pituitária é apurada, consigo distinguir o odor natural, esse sim, muito mais importante).


# 4 - O bicho escolhe a roupa. Sabe o que lhe fica bem e, pior que isso, sabe pelo nosso estilo que estilo deve adoptar (comigo, digamos que aprecio sobremaneira o sense of style e a adequação ao uso. O importante é terem pinta...em todas as circusntâncias).


# 5 - O bicho escolhe o melhor boxer da gaveta e se for preciso, ainda se chateia com a empregada ou com a Mãezinha, no worst case scennario, se aqueles boxers que lhe ficam a matar ainda não estão lavados (comigo, slip é factor de exclusão, e bichos deste mundo, se me estiverem a ler, saibam que mulher que se preze prefere boxers ou nada, não necessariamente por esta ordem).


# 6 - O bicho das duas uma: ou leva cd's se o território é chez nous ou escolhe a banda sonora se estamos chez il. Either way, ou não confia no nosso bom gosto e, pavor, leva o dele, ou supõe que nos vai dar uma lição (comigo, bebés, não vão longe; se há coisa que não me consigo abstrair é dos sons e se o som não me apraz, tá tudo estragado).


# 7 - O bicho, se estiver em vias de extinção, tece uma teia de palavras. Aqui é que a porca torce o rabo. Pode até nem as ter ensaiado, mas a Palavra, comigo, leva-me na certa. Não há nada melhor no mundo que conversar, exprimir ideias e absorver outras, colocar em palavras tudo e mais um par de botas. E se o bicho happens to have accurate sense of humour e me consegue pôr a rir à gargalhada em 3 tempos, é rezar a Deus para que as perninhas não me falhem no momento de fugir.


# 8 - O bicho escolhe a colheita do melhor vinho. Bom, diz-se de Baco que desinibe. Truque vil. A primeira coisa que me passa pela cabeça quando há vinho em campo é "o que tu queres sei eu". É vê-los fraquejar quando me confesso abstémia ou, if they're lucky, quando noto que o bicho conta cada mililitro de veneno ingerido e faz um ar de perfeito terror quando intercalo com um copo de água penalty style. Só para cortar. É como o ás de trunfo. Dá-me um gozo...


# 9 - O bicho conhece o corpo de uma mulher como a palma da sua mão. Ou melhor dizendo, atenta à mais ínfima variação de ritmo da nossa respiração e guia a sua viagem ao balançar das nossas ondas. Ou pior ainda, quando prefere que sejamos nós a guiar. Amigas, aqui é o salve-se quem puder.


Pergunta # 3 - O que o bicho espera que façamos quando já é tarde demais?


Aqui a resposta foi unânime: get lost.


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E a vossa pergunta é "mas porque é que raio este post se intitula "Um certo "je ne sais quois"", quando ela me escreve sobre o bicho homem?".


Fácil, fácil. A característica que provei ser essencial para que bichos e mulheres se apaixonem é, nada mais nada menos que o famigerado "je ne sais quois".


E viva o totoloto!

Quebrar ou Vergar, eis a questão...parte II

Em resposta ao meu teaser, a minha Amiga Teimosa respondeu-me à letra com o Cântico Negro que aqui se segue, desse grande senhor poeta José Régio:

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

Allegro ma non troppo


Uma diversidade de acontecimentos surpreendentes, levou-me a recordar uma boa leitura de há uns aninhos. Um livro de Carlo Maria Cipolla, um historiador italiano que escreveu um livro sobre a estupidez humana, chamado Allegro ma non troppo.


O livro quase que se aproxima do relatório de uma qualquer experiência científica, em que são enumeradas em jeito de conclusão, qual teoria matemática ou física, as 5 leis fundamentais da estupidez humana, a saber:


1) Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos que há no mundo.


2) A probabilidade de que uma determinada pessoa seja estúpida é independente de qualquer outra característica dela mesma.


3) Uma pessoa é estúpida se ela causa um dano a outra ou a um grupo sem obter nenhum beneficio para si, ou mesmo sofrendo prejuízo.


4) As pessoas não estúpidas subvalorizam sempre o potencial nocivo das pessoas estúpidas; esquecem constantemente que em qualquer momento e lugar, e em qualquer circunstância, tratar ou associar-se com indivíduos estúpidos constitui inevitalmente um custoso erro.


5) A pessoa estúpida é o tipo de pessoa mais perigosa que existe.




"Mas e o que é isso da estupidez?", reclama o estimado leitor. Pois bem, cliente que reclama é cliente ineteressado e que tornará. Satisfazendo-vos a curiosidade, aqui deixo algumas definições:


1) estupidez s. f.,
qualidade do que é estúpido;
falta de inteligência, de juízo, de discernimento.


2) A estupidez é a qualidade ou condição de ser estúpido, ou a falta de inteligência, ao contrário de ser meramente ignorante ou inculto. Esta qualidade pode ser atribuída às acções do indivíduo, palavras ou crenças. O termo também pode referir-se ao uso inadequado do juízo, ou insensibilidade a nuances por uma pessoa que se julga inteligente. A determinação de quem é estúpido é relativamente difícil, apesar das tentativas de medir-se a inteligência (e assim estupidez) tais como testes de QI. O adjetivo também pode ser usado como um pejorativo.


3) Segundo Oscar Wilde, "Não há nenhum pecado, exceto a estupidez.".


4) Auto-destruição inconsciente, a capacidade de agir contra um voto de felicidade.


5) Para Albert Einstein, "Só duas coisas são infinitas, o universo e estupidez humana, e eu não estou seguro sobre o anterior.".


6) Existe também um informado leitor da revista Autohoje que afirma peremptoriamente, "Estupido é um gajo poder comprar o novo Alfa Romeu e ir comprar um BMW.".


7) Estado de torpor intelectual passageiro, que se distingue do estupor (paralisia motora) em virtude de afetar sobretudo as funções intelectuais.




Face ao exposto supra, resta apenas acrescentar de minha lavra que a estupidez humana poderá ser apenas a tradução prática de uma falta de capacidade para pensar mais além.


Numa discussão com um estúpido, não tenhamos a pretensão de que argumentos inteligentes colherão. Pelo contrário, ganhar-nos-á pela experiência e também pela nossa incapacidade de utilizar o mesmo tipo de silogismo.


Posto isto, não sei quem é mais estúpido: quem ainda perde tempo com explicações ou quem não as consegue entender por mera incapacidade.


A pessoa mais estúpida com que jamais privei?


A própria.






quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Aniversário do Ben


O mais perto que estou de ser Mãe é ser Tia. Vai dar no mesmo, só que com mais horas dormidas.


E sendo eu perfeccionista, tenho de ser A Melhor Tia do Mundo e Arredores, incluindo Marte. Para além do infinito amor, afecto, atenção, paciência, ternura e carinho que lhes dedico, há também uma parte de mim que só não lhes dá o mundo porque não pode. Mas estou lá perto...


Quem é que não gostava de receber como presente de aniversário dos seus 4 aninhos, uma mega trotinete (swiss engineering), altamente croma, preta com as rodas laranja?


Penso até que homens de 40 gostariam de a receber, quanto mais um menino de 4.


Safety first, o capacete é a dar com os tons da trotinete. E as joelheiras e cotoveleiras também.


Vou plantar um sorriso permanente na carinha linda do meu primogénito. Vou chorar de emoção, mal ele desembrulhe o presente e me pegue na mão para ir com ele ao jardim grande experimentar.


Oxalá não chova...
Foto courtesy da Tia há 2 aninhos

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Perfil Lipídico


Acabei de chegar da médica.


Com aquele olhar de esguelha mas com ternura, pergunta:


- É fumadora...

- Não...

- Hum...Faz desporto intenso?

- Também não...aparte umas corridas esporádicas...

- Mora em Lisboa?

- Sim...

- É que os níveis de hemoglobina estão lá nos píncaros. Isto só acontece quando se é fumador, quando se leva uma vida de desportista ou quando se mora em altitude. Espectacular!

- Ah, pois, quando se obriga o organismo a reagir ele produz mais hemoglobina.

- Hum...e este perfil lipídico...

- Está alto o colesterol mau, não está?

- Nada disso. Aqui está um perfil lipídico invejável. Come muitas saladas e fruta?

- Nem por isso. Mais no Verão, mas numa semana, devo ingerir só uma porção diária de legumes ou fruta. Aliás, há semanas em que só como fritos e doces.

- Bem...espectacular!


Sou imune à Hepatite B.


Não sou imune à Toxoplasmose.


Sou imune à rubéola.


Não tenho nenhuma DST.


Sou muito gaja (em termos hormonais, incluindo tiróide).


Não tenho células cancerígenas.


Vou fazer a vacina contra o cancro no colo do útero. 170 € vezes 3 doses. Cara, mas eficaz em mulheres menstruadas dos 13 aos 40 anos. Amigas, bora nessa?


Fiquei com vontade de partilhar do meu sangue bom com mais pessoas: só me falta mais um quilinho ou dois...


O primeiro check-up completo deu bons frutos. Para o ano há mais.


Agora vou dedicar-me à pele. Prometi que lá voltava depois da praia. Parece-me que é agora...

terça-feira, 28 de outubro de 2008

O Jogo do Anjo - parte II

Só vai entender o Jogo do Anjo quem leu a Sombra do Vento. Mais sombrio, este primeiro. Menos mistério. O cemitério dos livros escondidos continua lá. O livro é que nos escolhe. Nele está contida a alma de quem o escreveu, a alma de quem o leu. Os livros têm alma.

Digamos que, cronologicamente, o Jogo vem antes da Sombra. Abri-vos o apetite?

Passem lá por casa que eu conto o resto...

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Carta a B # 3

Hola, Chico! (para ler com sotaque castellano, por supuesto)

Vim no Sábado das minhas férias de Madrid. Gostei (só gostei). As gajas são giras e arranjam-se (embora nos furem os tímpanos com as suas conversas "à la metralhadora"). Há montes de lojas bonitas. Mais movimento às 6 da manhã que às 6 da tarde. Boa comida. Muita arte. Muito jardim. Muito edifício lindo. Muita avenida. Muita poluição.

Agora estava tantada a ir visitar-te. Não sei se vá este ano ainda (nos feriados de Dezembro) ou por altura dos meus anos...Diz-me tu?

Só depende de ti...

Tenho saudades!

Amei Camille. Mesmo. Vou arranjar as músicas para o meu iPod...

Desculpa só responder agora, mas isto tem estado duro e para te responder, é preciso que a veia literária pulse, ou que tenha uns segundos de calma. Como não estou a ter nenhum dos dois hoje, decidi ainda assim tentar a minha sorte e escrever-te...

Ora, em respondendo às tuas perguntas:

- Sim, na realidade até penso bastante na vida enquanto vejo estas séries, e isso até me faz bem!

- Nim...já trabalhei muito e é por picos, mas em geral cumpro as 07h30 diárias...e às vezes faço mais, outras faço menos, mas eu tenho uma coisa chamada "isenção de horário" e que me dá mais uns cobres ao fim do mês. Tanto dá para o mais, como para o menos. Tenho é de ter o trabalho feito a horas...

- Bem, O Manel tá-lhe a dar na foto. Nunca pensei que ele fosse tão bom! Lembro-me d'ele tirar 1400 fotos das vossas férias em Alfaiates, mas era com as máquinas antigas. Agora, isto, de facto, não estava à espera...fiquei fã do Pai Manel. Ele que continue que tem muito talento!

- A Fé. A Fé é uma coisa muito pessoal, a minha pelo menos. Não acredito em Fátima. Nem nas Lourdes. Mas acredito no meu Deus e em Jesus e nos seus ensinamentos de amor e respeito ao próximo. Os homossexuais deviam casar todos, toda a gente tem o direito ao aborto, os padres são hipócritas, o que faz com que algumas correntes sejam hipócritas também. O papa está lá longe. Tenho um padre na paróquia do Campo Grande que amo de paixão e cujos sermões ao Domingo me falam ao coração. O importante é tu encontrares uma comunidade onde te sintas bem e onde o padre não seja castrador e chato. Este é um que aparece muito na tv chamado Victor Feytor Pinto. Amo-o de paixão. Menos quando ele vai defender o direito à vida na questão dos abortos.

O amor da minha vida...prefiro nem falar sobre isso...talvez um dia...

Muitos mas mesmo muitos beijinhos e obrigada por me teres deixado reencontrar-te,

Inox

Cartas a B # 2

Olá, Meu Querido B'ovsky!

Infelizmente as minhas pausas no trabalho são ao fds (lol)...nah, para ti há sempre um tempinho, embora não dê para grandes elaborações...sai directamente do coração sem passar pelo intelecto...

Sim, a ópera do alka seltzer escreveste-a tu enquanto estavamos sentados no "sopinha de massa" a lanchar des croissants aux chocolat, e foi-nos encomendado por um professor de português qualquer (sei que foi antes do 10º ano)....e sim, nós bem que lhe mostrámos os adjectivos todos!!! Mais tu do que eu, mas enfim...vissicitudes de quem não deve muito à criatividade...

A Normandia não está nos meus destinos a visitar, mas quem sabe um dia não vá lá ver esses póneis escovadinhos... Mas ainda bem que continuas a gostar de campo e verde e frio...é sinal que continuas "parecido" ao B com quem eu cresci...

A Bjork é nórdica...não gosta cá de ser popular e tal, fotos e tal, red carpets e tal...eu percebo! Interessa é que ela tem talento para dar e vender...

O Saramago, bem que eu gostava de te oferecer as Intermitências...sim, o livro ou as "sinopses" do livro indicam isso, que é sobre uma população que deixa de morrer de um dia para o outro porque a Sr.ª Morte (no livro ele fala em morte, com letra pequena e tudo) decide tirar uns diazinhos para si...mas ao início não se percebe que seja por isso...as pessoas simplesmente deixam de morrer e depois, metade do livro, é só imagniar os problemas sociais, logísticos, políticos e religiosos que isso implicaria. Esta parte é a verdadeira seca...tá bem escrito e tal, mas desespera-se um bocado quando pensamos que ainda falta mais de metade do livro para acabar...a parte boa é que, a meio do livro começa a ser desvendado o verdadeiro motivo pelo qual se deixou de morrer...e começa a ser o mais lindo livro d'AMOR que já li na vida, a seguir à "sombra do vento", claro...

A eterna dualidade beyoncé vs shakira...eu cá é beyoncé...muito mais classe...a shakira até devia ser a minha preferida, que é do meu signo, compõe a própria música e ainda é activista dos direitos humanos da colômbia, mas a beyoncé é mai linda!!!! E canta com melhor voz...vejo pouca versatilidade na voz da shakira...enfim...assuntos de merda...

Já esse Mike, epá, sim, lembro-me do Moonlight shadow mas já naquela altura achava uma verdadeira seca...não me entra, mas deixa lá isso...

Que engraçado! Tu vês as séries e pensas ao mesmo tempo...eu levo aquilo de bandeja...como tudo e nem penso...é isso que gosto...não pensar...

Ora bem sobre os preços, posso dizer-te que se antigamente era verdade que se ganhava pouco mas era tudo barato, esquece lá isso agora! Tudo é o dobro do que era d'antes...tipo um rissol seria no máximo uns 90 escudos e já era muito, agora se arranjares um por menos de 1€ é um verdadeiro achado...e a TV Cabo (só, sem telefones, nem nets, nem cenas extra) custa-me €30,96 todos os mesinhos...sim, ganha-se menos e paga-se mais, e os mais ricos, nem refilam com o preço...

Muçulmanos queridos com as mulheres?!? Isso existe? E judeus? Para se ser judeu, B, é preciso ter-se Fé, tanto como um católico, e isso não nasce de um dia para o outro...só mesmo nos gatos ;-) Eu diria até que é preciso mais Fé para ser judeu por causa da história da circuncisão...uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

E sim, gostamos é de festa, mas a festa dos portugueses é de facto muito merdosa...é santas padroeiras como desculpa, é Quim Barreiros sempre a tocar, frangos assados a acompanhar, as rifas e as eternas bebedeiras...não tem a mínima classe...e sim, em Paris de França, até mandar alguém à merda deve ser digno de filme....

Como é que se faz quando nos sentimos "bons demais para" qualquer coisa? Está-me a acontecer pensar isto em relação a tudo na vida...será que é uma fase, falta de poder analítico, excesso de ego ou simplesmente depressão?

Avizinha-se consulta grátis...

Am I that good?

Beijinhos cheios de saudade...

PS - Um dia destes mais para o ano, vou aí visitar-te num fds...tou com vontade de desopilar...(sempre gostei muito desta expressão)

Cartas a B

Epá, B, tu dizeres que está bem escrito...faz-me chorar de felicidade! Ou tu pensas que eu me esqueci da Ópera do Alka Seltzer? Parerce-me que quando mudei de casa estive em contacto com esses manuscritos...e guardei...só não me lembro onde....

Sabes porque é tu achas engraçado desenterrar o passado do baú? Porque no fundo és como eu, versão masculina! O passado é uma parte do que somos agora. Não o podemos esquecer...se não, esquecer-nos-íamos de nós...

Olha, e que tal a Normandia? Foste à praia desenterrar minas ou quê?

As Intermitências da Morte, penso eu de que, é o livro mai lindo do Saramago. Começa mal. É chato. Nunca mais chega ao ponto...ah, mas quando chega, faz arrepiar de tão belo! Realmente, não sei onde vai ele buscar aquelas ideias...Tenho tanto medo que ele morra!

Já do Lobo Antunes, aquilo que leio é tão real...não me puxa muito...agora se queres ler coisas lindas no meio da desgraça, experimenta Mia Couto. É lindo. Lindo e simples ao mesmo tempo.

Puta da Bjork, raios a partam, a estúpida da miúda! LOL (é o típico protesto português). Espero ter-te posto a rir...Sim, é muito mal educada, mas talvez tivesse pensado que ias guardar o papel e lambê-lo à noite sozinho no teu quarto...

O Robert Smith não consegue é já ver o nº da nota...Fui aos Cure no Atlantic Pavillion (assim até parece grande coisa) e adorei...as mais antigas, claro, que as novas nem vê-las...

Agora isso sim, de me comparares à grosseirona da Ferggie...esse é que era o meu sonho! E ainda bem que lhe fico à frente em matéria de mamas...Ó purfavôre!!! Mas e não é que eu acho a música dos Black Eyed Peas realmente diferente da merda que se tem feito com a Pop?

Em relação ao teu enconanço (que isto uma lady também pode dizer um palavrão de vez em quando), era engraçado de ver, mas deixou marcas certo? Também não te estou a ver a ser um Don Juan....talvez something in between...Não me digas que tu andas aí a partir corações de vizinhas solterias giras? Ou elas também estão interessadas nuns amassos? Numas lasquinhas tiradas, hum?

O ONE (não que ande a ouvir U2 que nem louca, mas um dos cd's que tenho agora no carro é o POP) fez-me mesmo sentido no dia do concerto no sentido em que disseste "pode ser um apelo de Deus às pessoas para que elas se dêem mais e parem de se amargurar cada uma no seu canto"...É isso mesmo! E eu a pensar que me tinha explicado bem!!!!

Olha, eu também já não aguento as pretas aos berros...Só gosto das mais mexidas da Rihanna. Beyoncé, só de olhar para ela fico com os calores. Como é que tu não ficas????? Experimenta desligar o som e vê só o vídeo...fala com os olhos...e não é porca como a Shakira com voz de homem....

Mike Oldfield? Não era um cd que tinhas que se chamava tubular bells que eu odiava, uma verdadeira seca....

Agora por falar em Lynch, sabes que vão repetir o Twinn Peaks num canal da tv Cabo chamado FX (onde também dava o Californication, o Dexter, e séries assim mêmo boas). Agora ando numa de séries. Vi os House todos de enfiada. Fiquei apanhada pelo loiro giro, o Jesse Spencer. Depois foi a fase Sexo e a Cidade (é o meu toque de telemóvel). Depois ainda houve a fase da Uggly Betty, Anatomia de Grey, eu sei lá. Há outras duas de leis que é o Boston Legal (onde o gajo amigo do principal me faz lembrar de ti) e o Shark...Pronto, tenho passado mesmo muito tempo em caselas!!!

Ora no dia dos meus 30 anos estava em Roma com uma amiga nova que é a C. Super divertida ela. Entra numa sala e enche-a logo de good vibrations...e agora apareciam os Beach Boys ainda com idade de surfar? Mas anyway, os 30 foram espirituais. De manhã, fui ...espera lá, não sei se te contei que entretanto descobri a luz e voltei a ser católica? Pronto, de manhã, fui visitar o Vaticano. Lindo maravilhoso, comovente mesmo. Um senhor no café de São Pedro pensou que não tivessemos dinheiro (não tinhamos era ali, tinhamos de ir levantar) e ofereceu-me o meu almoço de anos. Depois ao fim da tarde, fomos para a Basílica de São Paulo ver uma missa coral presidida pelo Papa Bento olheirento 16. Foi muito giro...depois fomos jantar a um mega restaurante da moda...No hotel ofereceram-nos champanhe e "minuíns". Fiquei num hotel maravilhoso. Promete-me que quando lá fores ficas netse hotel. Chama-se San Anselmo e fica no monte Aventino. Fui prá cama Feliz!

Camille...ainda não tive tempo, mas prometo que vou...

Gira eu? Só se for das fotos...Nah, pronto, modéstia à parte...Muito obrigada! You're quite nice yourself!

Beijos montes deles e conta-me mais coisas da vida "na" França. Tipo, todos os dias esbarras com belas mulheres com pêlos num sovaco e baguetes no outro, vais a exposições e concertos, e passas a vida enfiado no Louvre e nos jardins das Tulherias...ai como eu queria passar aí uma temporada...

Tua sempre

Inox

Defesa de Tese

Hoje é o dia em que defendes a tua tese de doutoramento.

Hoje é o dia em que aqui estou a lembrar-me de ti a cada meia-hora, fazendo figas para que o teu brilhantismo esteja patente na tua Obra e que o ponhas cá para fora.

Hoje é o dia em que vou fazer de babysitter para tua casa, para que possas comemorar até cair este momento tão esperado.

Hoje e sempre, estarei aqui...

...para o que der e vier.

domingo, 26 de outubro de 2008

O Cair da Moeda


Que atire a primeira pedra quem nunca teve aquele chato à cola.


Aquele que nos afaga o cabelo e cujo toque nos faz serpentear para longe.


Aquele de quem recebemos as sms's mais queridas e enternecedoras, às quais respondemos por pura educação, bem ao lado daquilo que era esperado de nós.


Aquele que nos dedica um profundo sentimento platónico, ao qual respondemos com parcimónia e estima.


Aquele que nos leva a passear aos sítios mais lindos do mundo, enquanto nós, de 5 em 5 minutos, estamos de olho no telemóvel à espera de outras notícias.


E quando o encontro acaba por si ou nós esforçamo-nos por acabá-lo, só queremos a paz da nossa casa, o nosso cantinho de solidão.


Tenho uma colecção desses chatos colados na caderneta.


Tenho pena deles.


Tenho pena de não lhes corresponder. Porque, no fundo, sei que me dedicam muitas horas do seu pensamento, muitos dias da sua vida a pensar em maneiras diferentes de me surpreender. And they never do.


Tenho pena deles.


E ao pensar em tudo isto, assim, sem mais nem menos, vi a luz.


Mais cedo ou mais tarde, isto iria acontecer.


Tão fatal como o destino.


Atingi o limite.


A gota de água.


Caiu a moeda.


Só vemos o ranho na cara dos outros.


O pior cego é aquele que não quer ver.


Caiu a moeda.

Fruir


O melhor da festa é a antecipação, dizem. Com a imaginação fértil com que Deus me dotou, o gosto em receber e a capapcidade infinita de dar, até poderia concordar. Mas ontem passou-se perfeitamente o contrário.


Há muito que não os convidava para um jantar Daqueles em minha casa. Decidi abandonar a tendência e convidei-os há mais de um mês. Depois de muitas conversações, avanços e retrocessos com a data, finalmante arranjámos uma que melhor conveio aos convidados: ontem.


Fou um dia atípico. Menos nisto: sábado de manhã, casa a brilhar. Repor as velas. Recolocar os tapetes que a Luna insiste em manter fora do lugar.


Apeteceu-me ir à praia. Foi a melhor coisa que fiz nos últimos tempos. Vesti o meu bikini maravilha à 007, code name para modelo parecido com o de Halle Berry e Ursula Andress, only mais moderno, com melhor e mais bonito tecido e que me faz sentir a mulher mais bonita da praia.


Vidros abertos, cabelos soltos, óculos escuros, rumo a sul. Melhor uma com bar, não me vá dar a fome. Sereia. Contavam-se 7 carros no estacionamento, o meu incluido. O bar estava fechado. Paciência. Magotes de surfistas aglomeravam-se na areia (poucos carros mas muitos ocupantes, pensei). Andei pouco até encontrar um lugar que distava do vizinho mais próximo alguns 500 m.


Despi-me. Estendi a toalha. Apanhei o cabelo num carrapito. Tive preguiça de espalhar creme. Peguei no iPod e lá fui experimentar a água. Estava um mar revolto com ondas perfeitas enroladas em tubo, mas brilhante. Lembrei-me da célebre frase de MR "Embora nadar até ao risco." e ri-me. Ri-me sozinha. Música perfeita. Cantava a plenos pulmões. Ninguém me poderia ouvir.


Ali estive perto de uma hora a rodopiar na espuma das ondas.


Cansada de andar em tropelias, caí na toalha. Ligaste-me, J'inho, foi quando ouvi o teu toque sobrepor-se ao da música. Querias combinar comigo no Bairro. Já tinha planos, mas podia ser que ainda me apetecesse. Ias andar de bicicleta. Eu ia acabar de ler o meu livro.


Li. Li. Li. Quase 100 páginas de enfiada. Terminei. Sempre que termino um livro de que gosto inunda-me uma sensação de perda. Mas que é sempre diferente de livro para livro. Nunca mais me vou sentir assim. E urge a vontade de começar outro e outro e mais outro. É um dos meus vícios. Isso e chocolate. Isso e sol. Isso e dançar.


O sol queimava a pele. E que bom que é o calor que nos beija.


De volta. Não via nada à frente a não ser uma fome doida. Passei no Deli Deluxe. Perdi a cabeça nos queijos: emmental, évora e azeitão. Creme chévre para barrar. Tostinhas perfeitas. Batatas fritas hand cooked de red spice. Áquela hora não havia mesa.


Corri para o carro, não fossem os queijos perder toda a sua graça. Intriga-me aquela vagina de entrada para o Lux. "É uma ideia de extremo bom gosto", pensei. O artista devia ser condecorado. Pus-me a pensar nos momentos de alta trip que poderiam ter estado na origem de tamanha descoberta e ria-me. Ria-me sozinha, rumo ao Suportel.


Passo antes ali na Tarik. O quê? Chocolate com croissant e um copo de leite gordo gelado. O céu.


Mousse de paté provençal, cereais para a semana, rúcola e tomate cereja para a salada e os ingredientes maravilha para a maravilha de lasagna.


Casa. Demorei cerca de 2 horas a cozinhar só a parte da carne. Obra prima. Enquanto isto via um filme que passava no Hollywood. Pus a mesa a um canto e dispus pratos, talheres, copos e guardanapos com o gosto que me é característico.


Não sei como, mas os convidados chegaram de uma golfada só. Distribuí beijos em caras sorridentes, peguei nos seus casacos e levei-os ao quarto. Traziam vinho e sobremesa. Alguns traziam também medo da Luna. Portou-se bem, o meu bebé. Só arranhou H.


Um dos meus maiores prazeres é cozinhar e receber quem gosto. Éramos 8. Podíamos ter sido 10. L trabalhou até tarde. PM estava ainda tonto. Senti a vossa falta e quero que voltem.


Pediram-me música. Os cd's bons estão no carro. P interrropmpeu-me e disse "Vamos refazer essa frase. Estão a estragar-se no carro...". Ri-me. Tem toda a razão. Sou uma preguiçosa de primeira. Pus a banda sonora de Until the end of the world a rodar em repeat. Ninguém notou. A meio da noite, P vira-se e pergunta: "Este cd é meu, não é?". Resposta: "Foste tu que me ofereceste...mas se quiseres empresto-te". Calou-se. Riram. Menos eu. Sei bem porque o disse.


Foi sem intenção, posso assegurar-vos. A nossa música passou suavemente. Lembrei-me de nós, de quem éramos e de como nos amávamos. Passou. Ficou durante muito tempo uma Amizade profunda de cão e cego. Íamos a todo o lado juntos. Passámos por dificuldades abismais juntos. Pensavam-nos ainda namorados, mesmo decorridos milénios. Durante muito tempo, lutei para conquistar a confiança da sua bélle H. Foi tão duro. Mas consegui. Fui "madrinha" do casamento. Há 3 anos e meio.


Hoje pode dizer-se que a instransigência de P nos afastou. Incapaz de aceitar a diferença na casca, P julga uma mudança de menatalidade em mim. Mas não, P. Tudo o que admiravas, tudo o que nos unia está cá. E mais, o meu amor profundo pelos teus filhos, como se fossem meus sobrinhos, acrescenta-se à lista. Ah, e a amizade, ternura e respeito pela tua mulher. E por ti.


Como pudeste afogar a nossa Amizade tão bonita assim?


Acordei, submergindo dos meus pensamentos. Todos felizes à minha volta. Falávamos de vinho, de tempos idos, de professores que já nem estão entre nós, do Magalhães, da mousse em sumo de laranja, das dores de H, de intolerência mortal à galactose, de como os Pais podem ser cruéis e desinformados, de como se pode "reter" um aluno no sistema de ensino de hoje, do Joca e da sua queda monumental para a fossa, das conversas estridentes com o Rúben, do Ramalhete de Queiroz. E de mais. Muito mais.


Senti-me tão em Paz. Talvez fosse do vinho. Não...


...aquela é a minha gente.






sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A Melhor Lasagna do Mundo


A pedido de várias famílias, aqui fica, para que não restem dúvidas, a receita da Melhor Lasagna do Mundo.


Ingredientes

1) Para a carne:
0.5Kg de carne magra de vitela picada duas vezes
1 Limão
1 Alho francês médio
1 Cebola média
Azeite extra-virgem (no máximo 0.7 de acidez)
Mistura de 5 pimentas moída no momento (irão precisar de moinho)
Orégãos frescos e secos (nas melhores praças algarvias)
Cogumelos frescos inteiros
1 Lata de tomate cortado aos pedaços com manjericão (Basílio é o que vem escrito na embalagem) da Grand’Itália
Sal grosso moído no momento

2) Para o molho Béchamel aldrabado:
1 Colher de sopa de manteiga com sal
Farinha qb
1 Pacote de natas frescas (não há cá light nem UHT’s, é mesmo para a engorda)
Leite do dia gordo qb
Noz-moscada na altura (irão precisar de raspador)
Sal fino qb

3) Para a massa:
Massa de lasagna fresca marca Rana
Água, sal grosso e óleo (caso coloquem mais que uma placa de cada vez, o que não aconselho)

4) Para gratinar, o queijo mozzarella dinamarquês ralado (2 pacotes, para ao amantes de queijo)…não-me-lembro-da-marca…poderá ser Ramazzoti, não garanto!

Preparação


1) A Carne…
- Temperar a carne com o sumo do limão e envolver bem
- Cortar a rama e a terminação do alho francês, fazer um corte transversal e cortar rodelas muito fininhas
- Picar a cebola
- Seccionar cada cogumelo transversalmente (dá mais jeito para o apoiar) e laminar
- Num tacho médio, colocar a cebola e o alho francês, regar com bastante azeite e refogar em lume médio (apostem neste refogado porque é um dos segredos)
- Quando a cebola e o alho estiverem quase translúcidos, misturar a carne até ficar rosada
- Misturar os cogumelos e tapar para que toda a sua água se envolva com a carne
- Misturar o tomate, temperar com pimenta e orégãos e deixar apurar

2) O Molho Bechamel Aldrabado
- Derreter a manteiga em lume brando num fervedor grande
- Juntar a farinha com varetas até fazer uma bola consistente
- Juntar as natas e envolver (não deixar ferver)
- Juntar o leite aos poucos até perfazer a quantidade e consistência desejada
- Temperar com sal e bastante noz-moscada e deixar ferver

3) A Massa
- Ferver a água numa frigideira alta e larga com sal e óleo
- Colocar uma placa de cada vez durante 3 minutos (conforme instrução na embalagem)
- Após a cozedura, colocar a placa cozida num recipiente com água fria aguardando a companhia das restantes (conforme o gosto, embora eu goste de mais carne que massa, coloco 3)

4) O Empratamento
- Barrar o fundo do recipiente a ir ao forno com molho branco para que a primeira massa não cole ao fundo
- Colocar a massa
- Colocar a carne com escumadeira para que não leve todo o suco
- Colocar a massa
(repitam os dois últimos passos quantas vezes necessário)
- A camada final será de massa
- Por cima, colocar todo o molho branco
- Distribuir o queijo ralado por cima do molho branco
- Gratinar num forno a 220ºC durante cerca de 15 min. (ir espreitando para que não fique queimado por cima)

NOTA: Este prato leva imenso tempo e amor a confeccionar, pelo que não aconselho fazerem-no se apenas tiverem uma hora disponível.




quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Forbidden Colours - David Sylvian




The wounds on your hands never seem to heal
I thought all I needed was to believe

Here am I, a lifetime away from you
The blood of Christ, or the beat of my heart

My love wears forbidden colours
My life believes

Sensless years thunder by
Millions are willing to give their lives free
Does nothing live on?

Learing to cope with feelings aroused in me
My hands in the soil, buried inside of myself

My love wears forbidden colours
My life believes in you once again

I'll go walking in circles
While doubting the very ground beneath me

Trying to show unquestioning faith in everyone
Here am I, a lifetime away from you
The blood of Christ, or a change of heart

My love wears forbidden colours
My life believes

My love wears forbidden colours
My life believes in you once again

in Merry Christmass Mr. Lawrence de Ryuichi Sakamoto

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Ensaio sobre a Cegueira


Muita tinta tem aqui corrido sobre música. Alguma sobre livros. Outra tanta sobre filmes.



Agora sobre Literatura à séria, de facto, tenho escrito pouco, o que leva o estimado leitor a considerar que está diante de uma “postadora” sofrível em termos de alta cultura.


Dizer-vos que não é bem assim, decerto não vos convencerá. Tenho mesmo é de o provar.


Pois bem, aqui vai um post que poderá servir de evidência objectiva.


Take your seats. Make yourself confortable. Descalcem-se, se vos apetecer.


Andava à toa na vida, quando de repente é atribuído um prémio Nobel a um português. Um escritor para o qual nunca tinha tido grande vontade de espreitar, dado que todos me diziam que era chato.


Pensei eu “Com tanta coisa boa para ler por este mundo fora, tanto escritor, tanta obra, tanta curiosidade, porque hei-de eu perder tempo com um que me dizem ser chato?”.



Era agora que eu cortava os pulsos. Ai, se arrependimento matasse…


Mais uma vez veio a provar-se que o mundo anda doido e não perde um segundo no fim do dia para usar o cérebro e deixar-se envolver pelo diálogo filosófico interior que obriga a que atribuamos no nosso intelecto uma “fala” a uma personagem (sim, uma personagem, nunca um personagem, please…). Reparem, este escritor não nos faz a papinha. Só dá (a modos que em figura de estilo) o pó, o leite e o microondas. O resto somos nós quem tem de cozinhar. E cada qual cozinha com o jeito que Deus lhe deu.


Durante pouco mais de duas semanas devorei aquela que foi uma das minhas mais ricas experiências de leitura. A primeira leitura. Comecei com voo rasante e depois fui ganhando altitude. Por assim dizer, em concretizando, iniciei a minha maior Paixão (no sentido literal) literária por Saramago com “Memorial do Convento”, passei por “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, subi à montanha com “Ensaio sobre a Cegueira” e comemorei o estado d’alma pleno com “As Intermitências da Morte”.


Dia 13 de Novembro estreia O Filme. O Filme, repito. Nunca pensei que conseguissem transformar A Obra em Filme. Não penso ser possível que O Filme venha a ser melhor que A Obra. Tinha na minha cabeça a imagem criada das personagens. Vai ser difícil que as d'O Filme tenham linha de correspondência directa com as da minha mente, mas…


…estou aberta a novas experiências e a questionar os meus dogmas. Sobretudo em se tratando de um realizador que eu venero. Meirelles faz coisas do arco da velha. Diria até que fez 3 dos filmes da minha vida: Cidade de Deus, O Fiél Jardineiro e Ensaio sobre a Cegueira. Sim, é já um dos meus favoritos, mesmo sem o ter visto ainda. É tudo uma questão de Fé.


Vou andar atenta aos sites que “oferecem” bilhetes para as antestreias. Se não for na antestreia, vou ver o filme no próprio dia 13. Mesmo que haja o sismo que anda prometido desde 1985. Mesmo que seja só o projector e eu. A película há-de rodar para mim.


[não sei se perceberam ainda, mas este tipo de determinação é-me mesmo característica quando só vejo o meu objectivo à frente]


“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.” – o lema da minha vida.


terça-feira, 21 de outubro de 2008

Quebrar ou Vergar, eis a questão...


Uma amiga muito amiga costuma dizer de si mesma em momentos de raiva "Que eu quebro mas não vergo!". E eu rio-me com tamanha teimosia. Leva tudo à frente.


Prefiro dizer de mim "Que eu vergo mas não quebro!". Vergar nem sempre significa perder. Vergar implica dar lugar ao novo. Pensamento. Sentimento. Gosto. Ser flexível e admitir que se gosta de coisas diferentes em alturas diferentes. Deixar espaço para a mudança. Mas só quando a coisa faz mesmo sentido. Quando merece a pena.


Quebrar é que não. Quebrar é deixar de lutar. É perder. É baixar os braços e desistir. Quebrar é partir, é não ter linha de vida nem fio condutor.


Que eu vergo mas não quebro!

Debruçados sobre o Tejo


- J’inho, Meu Amooooooorrrrrr!!!


- Nêêêêêsssssssssssssss Linda!!! Como tás?


- Tou bem e tu? A que se deve a honra?


- Sabes onde é que eu tou agora?


- Não faço a mínima ideia…


- Em Paris!!!


- Oh, Meu Deus!


- Tou aqui, no topo da Torre Eiffel e decidi ligar-te…


- [lágrimas a brotarem dos olhos que dominei com mestria e escondi na voz] Tão querido…sabes que nunca mais vou esquecer o gesto…nunca mais…


- Oh, a quem mais poderia eu ligar?


- Sei lá, mas é uma honra para mim…tás sozinho?


- Não tou com mais pessoal lá do Técnico.


- O Miguel?


- Sim e o Luís e mais pessoal.


- Manda beijinho ao Miguel e diverte-te muito…


- Eles também mandam beijinhos. E um meu especial…


- Outro para ti, Meu Querido!



Há dias em que desmoronamos com simples gestos de ternura com que nos brindam pessoas próximas.


Recordando-me deste episódio de há uma semana, decidi ligar ao J’inho para o desafiar a um jantar, ao qual ele acedeu prontamente. Só tive tempo de ir a casa, ligar a luz para a Luna, cantar-lhe os Parabéns (que ela estranhou) e pôr-me à civil. Voei na minha bomba até à porta do Técnico. Assim que o avistei, sai do carro e corri para ele, abraçando-o com muito amor, abraço esse completamente correspondido.


- Hum…tu tens coisas para me contar…


- Sim mas não. E tu?


- Mi águardje. Tenho uma história bombástica.


Escolhemos depressa o local da jantarada. Nisso, J’inho e eu entendemo-nos como casados há 20 anos.


De caminho, foi-me contando histórias de enrolanços, amaços, pinotes e números de circo entre pessoas nossas conhecidas. Comentámos que este mundo anda todo doido. Um que pensa que é um Casanova reencarnado, que se ocupa do dolce fare niente e em espalhar venéreas à pop feminina que se deixa encantar pela sua aparente poliglotia e genialidade. A outra que se deixa apaixonar pelo conto do vigário e cujo amor-próprio deixa muito a desejar. A outra que pensa que é a Mata Hari dos tempos modernos, femme fatalle condensada em metro e meio, suposta amiga das partes. Nada nesta história me chocou. Bem, talvez, apenas o facto das intervenientes femininas terem continuado amigas como d’antes, sob a desculpa minimizadora dos estragos “ah e tal, era só sexo”.


Imaginando que as partes não têm capacidade para uma relação à lá Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, é fácil julgar. O difícil é compreender.


Estacionei a bomba frente ao Tejo. Estava uma daquelas noites. Nem uma brisa. O termómetro marcava 22º Celsius, não centígrados (isso é a escala) .


Sentámo-nos numa belíssima mesa para dois, luz de velas, a melhor vista para a senhora.


Pedimos risotto de pesto com lagosta em limão. Delicioso, como a companhia. Muito falámos. Muito nos olhámos. Muito comunicámos. Muito rimos. Muito partilhámos. A mousse também.


J’inho insistia em oferecer o jantar.


- Nem pensar.


- Mas porquê? O último fiquei eu a dever-te e ainda te tou a dever outro de comemoração pelo meu doutoramento.


- Não. A meias. Outro dia, noutro restaurante, com outro clima eu deixo que me ofereças. Hoje não.


- Pronto. As you wish.


Ofereceu-me o braço e caminhámos uns poucos metros até beira-rio. Estava calma a noite. O reflexo da ponte e do Cristo-Rei fizeram aqueles momentos dos mais especiais que vivi.


Connosco a conversa nunca termina, apenas as circunstâncias nos silenciam.


É bom ter-te como Amigo Incondicional. É bom poder contar sempre contigo.


Um Bem-Hajas.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Luna


Parabéns à minha bebé! Faz hoje um ano que nasceu, mas apenas 8 meses que me foi confiada.


Vou fazer-lhe um mega banquete esta noite. Vá, e vou deixá-la dormir comigo, mesmo na parte em que ela acorda às 6 da manhã e começa a brincar com todas as mãos que estiverem de fora...and so help me God!


NOTA: Brincar quer dizer morder e arranhar...

domingo, 19 de outubro de 2008

Ten years from now


Em entrevistas de emprego e, por vezes, em animadas conversas pessoais, é usual perguntarem-me como é que me vejo daqui a dez anos.


Não tenho uma bola de cristal, embora tenha presságios e um sexto sentido instintivo ao qual dou mais importância que aos factos vividos. No entanto, há bons augúrios que têm pernas para andar e me colocar no caminho certo.


Confesso que no plano pessoal nunca pensei muito no assunto. Mas há uma imagem que retenho.


Já em termos profissionais, terra conhecida, tenho ainda um longo caminho a percorrer. Os meus maiores aliados já se encontram perfilados a meu lado para me suportar, sempre que o desânimo pareça ter partido para férias. Tenho características pessoais que sinto me levarão a bom porto. Sou persistente, hard-worker, assertiva, paciente, diplomata, metódica e não tenho medo do trabalho. Tenho medo é de falhar. E por isso, tento tudo ao meu alcance para que o falhanço perca toda a probabilidade de se tornar realidade. No fundo sou rebelde. Odeio regras, embora as cumpra exemplarmente. Odeio hierarquias, dado que não se fabricam verdadeiros líderes a torto e a direito, pelo que geralmente não lhes reconheço propriedade ou skill para ocuparem cargos de destaque. Questiono frequentemente as suas indicações e quando não o faço é de estranhar. É sinal que desisti. E quando desisto de algo é porque encontrei um novo caminho que sinto me fará mais feliz.


Respondendo à célebre questão, no campo profissional, estou a preparar o terreno para que possa trabalhar por conta própria. Uma empresa, qual Eneida, feita à minha imagem. Sem vícios. Sem cunhas. Sem pretensões. Sem pressa de chegar. Uma fortaleza feita de princípios, de trabalho duro, de generosidade, digna e de valor acrescentado para a sociedade. Quero ter uma equipa consolidada. Quero bons profissionais a meu lado. Não tenho medo que a sua sabedoria me ensombre e desejo aprender. Adoro ensinar mas prefiro aprender. Quero ser justa. Quero premiar o seu trabalho, seja com reconhecimento ou com progressão de carreira. Quero ser reconhecida pela equipa também. Quero ter sempre novos e diferentes projectos. Fugir à especialização e à rotina. Sou melhor em campos transversais.


Daqui a dez anos terei 40.


Quero o meu refúgio de porta vermelha. Todo em piso térreo. Comunicante. Aquele que desenhei tinha 12 anos. Um jardim interior de onde derivam todas as divisões. Janelas do chão ao tecto, para que a luz nos ilumine sempre, seja a da lua ou a do sol. Uma lareira. Uma mesa enorme. Lá fora, um pomar heterogéneo. Uma figueira, um pessegueiro, uma cerejeira, uma macieira, uma pereira, uma laranjeira, uma oliveira. Preciso de terra. Uma horta. Um morangueiro. Um herbanário, como lhe chamo, reservado aos aromáticos e ao chá. Chá príncipe, hortelã-pimenta, manjericão, salsa e coentros. Beldroegas, agrião. Silêncio. Sombra. Preguiça. Água. Verde. Um caminho. O caminho de volta.


Uma família. A minha. Nasceu há pouco tempo o meu segundo rebento. Concebido por Amor. Criado no Amor. Cubro-o de beijos. Dorme um sono tranquilo no meu colo fértil, enquanto eu, sentada à soleira da porta da cozinha para o quintal, lanço um olhar atento às brincadeiras do meu primeiro com os primos. É Domingo. Céu nublado. Corre uma brisa amena e mansa. Estão quase todos a chegar para o almoço que a minha Mãe e Irmã preparam lá dentro. A Luna espreguiça-se na janela. O meu Pai lê o jornal numa cadeira redonda ao meu lado, impaciente.


Há coisas que nunca mudam. E outras que, estando escritas, vêm a caminho.


Ouço o motor do carro a chegar. As portas tardam em fechar. Traz a sua Mãe pelo braço. Instala-a numa cadeira perto do meu Pai. Todos vêm ao seu redor para a beijar, incluindo o nosso Labrador. Um sorriso de felicidade estampa-se-lhe no rosto. Coloco-lhe o seu neto nos braços.


Estende-me a sua mão, com a graça de quem convida para uma valsa. Caminhamos de mãos dadas e em silêncio. Pocuramos a sombra...


...a sombra do vento.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

El Juego del Angel - Carlos Ruiz Zafón


Amena cavaqueira, em casa de P que fazia os seus 30 aninhos, e chega um dos convidados. L trazia consigo muita energia e cansaço por andar às voltas à procura da casa de H&P. E trazia consigo também o presente dele e de M para P.


"E o que era?", perguntam ustedes...


Era só o livro em apreço. No primeiro dia de lançamento da tradução para português...


Oh, Meu Deus! A Inveja é uma coisa muito feia.


Pensei: "Será que dá para passar numa livraria antes da festa acabar?".


Não deu.


Mas assim que sair do trabalho hoje vou lá buscá-lo...ai, não, que não vou!


Vai comigo para a cama hoje, ai, não, que não vai!


Apreciem a página oficial do livro e deliciem-se...

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Are You the One - Nick Cave

"Pelos vistos está com pouco trabalho!", deve ser o que vocês estão a pensar.
Nos últimos dias, tenho "postado" que nem doida. Coisas simples, que não demoram tempo nenhum. Uma música que ouço e me traz à memória tempos idos, um filme que podia ser o da minha vida, considerandos sobre atitudes, considerandos sobre viagens, and so ion and so ion.
Hoje, deixo-vos uma música de um Senhor australiano (mais um ponto, ó fáchabôr!) que não admiro muito, dada a sua loucura expressa em todas as suas produções, exceptuando-se, claro está, o "álbão" de onde foi retirada esta linda música e todas as outras dessa edição, o belíssimo e intimissimo "Boatman's Call".
Em momentos fáceis e em difíceis (e, para alguns, momentos assim-assim), há sempre uma dúvida que persiste...
...aqui fica a de Nick Cave e, quiça, a de muito boa gente neste Mundo...
PS - Tenho a leve impressão que quiça não se escreve assim, mas o que interessa é o essencial e esse, está lá!
I've felt you coming girl, as you drew near
I knew you'd find me, cause I longed you here
Are you my desitiny? Is this how you'll appear?
Wrapped in a coat with tears in your eyes?
Well take that coat babe, and throw it on the floor
Are you the one that I've been waiting for?
As you've been moving surely toward me
My soul has comforted and assured me
That in time my heart it will reward me
And that all will be revealed
So I've sat and I've watched an ice-age thaw
Are you the one that I've been waiting for?
Out of sorrow entire worlds have been built
Out of longing great wonders have been willed
They're only little tears, darling, let them spill
And lay your head upon my shoulder
Outside my window the world has gone to war
Are you the one that I've been waiting for?
O we will know, won't we?
The stars will explode in the sky
O but they don't, do they?
Stars have their moment and then they die
There's a man who spoke wonders though
I've never met him
He said, "He who seeks finds and who knocks will be let in"
I think of you in motion and just how close you are getting
And how every little thing anticipates you
All down my veins my heart-strings call
Are you the one that I've been waiting for?


terça-feira, 14 de outubro de 2008

Booth & The Bad Angel

Conheço esta música há muito, muito tempo. Esta não é a versão original com os arranjos do Angelo Badalamenti, mas...ah, este vídeo, sintam este vídeo...

Ease your lips into a velvet kiss while I enfold you

Move your hands across this promised land

The seekers guided by the pole star

Say the words

Why don’t you say the words

I have been waiting long to hear

Please fall in love with me

Drift with me upon an endless sea

We are divine in the realm of these senses

Every move has been a subterfuge

While we pretend that we really don’t care

Moved by fear we might be strangers here

But I can feel we might be one

Please fall in love with me

I hear the sound of moons falling

Surrender to this charm

I breeze across your soul darling

Deep eternity

Lost your mind

Well don’t you think it’s time

To swim away from the safety of these beaches

Trust the tides, they know which way to flow

And don’t you long to flow so far

Moved by waves we’ve never felt before

Till we are floating way out deep

Please fall in love with me

Please



Out of Africa

Aprendi o que era o Amor quando vi este filme. Tinha 7 anos.

Hoje vou revê-lo à Cinemateca.

E sentir. Sentir. Sentir.


domingo, 12 de outubro de 2008

Madrid, por supuesto


Pode dizer-se que "Não é Roma!", "Não é Paris!". É simplesmente Madrid. Diferente.


Não preciso de dizer que andámos quilómetros e que chegavamos ao hotel completamente rotas e com pés, pernas e ombros doridos.


Primeiro dia: fomos conhecer os highlights da zona antiga. Como ficámos num modesto Casón na Gran Via, fomos todos os dias a pé até ao Palácio Real e daí até à Plaza Mayor. A parte antiga da cidade, digamos que não me disse nada. Aquelas cores ocre tristes, o tijolinho nas paredes dos prédios, as lojas de recuerdos completamente atolhadas de tralha, vestidos de sevilhanas, abanicos e castanholas. Os bares e restaurantes para turista...


Culminámos a visita na Puerta del Sol, para mim, o Martim Moniz mas maior, o que só torna a zona mais assustadora. Passámos depois por uma zona comercial onde vimos uma fila gigante de jovens madrilenos à porta da Fnac (era o lançamento de um livro que não consegui perceber o nome nem o autor). Vestem-se todos num mix de punk rebelde, visual estudadamente desalinhado e até um tanto ou quanto sujo.

Nesse dia, do que mais gostei foi do interior do Palácio Real, faustoso, cada sala mais rica que a anterior. Dá para entender, pela arquitectura da cidade e por estes pequenos pormenores, que os Espanhóis aproveitaram bem o dinheiro dos tempos áureos dos Descobrimentos, à custa da exploração comercial (e não só) de outros povos.


A cidade toda ela é "à larga".


No segundo dia, optámos por ir espreitar todo o esplendor de Madrid Bourbón. Ele foi o Parque del Retiro com os Palácios Velasquez e Cristal, ele foi a feirinha do livro a caminho da célebre Atocha, onde vimos o último do Carlos Ruiz Zafón mas não nos atrevemos a comprar...estava em castellano...ele foi o Centro de Arte Reina Sofia com um dos meus preferidos Guernica de Picasso e todos os grandes do meu favorito espanhol Dali. Houve outro que não conhecia e amei pela simplicidade: José deTogorres i Ilach chamado "Desnudos en la playa" de 1929.


Não fomos ao Prado porque cheirávamos a mofo e precisávamos mesmo era de arejar. E, além disso, queriamos mesmo ver arte espanhola e não do resto do mundo. Para isso, há outros grandes museus europeus e norte-americanos.


Não fomos ao Real Jardin Botânico. A porta era a 600 metros. Mas não era. Era talvez a uns 6 quilómetros, isso sim. Mesmo em frente ao Prado.


Almoçámos na zona das lojas, El Barrio de Salamanca, à hora madrileña. Passámos por todas: uma mega Carolina Herrera, uma Chanel, uma Jimmy Choo, uma Prada, uma Dior, uma Dolce Gabbana, uma Gucci, umas 530 Bimba & Lola's, uma Massimo Dutti (que naquela zona está cheia como as nossas Bershkas), 23 milhões de El Corte Inglês. Durante toda a tarde vivemos a panaceia da procura de uma loja Tous. Lá a encontrámos. Um cubículo. Depois, fomos ao gelado típico na Haggen Dazs. Fuma-se lá dentro. Aliás, fuma-se em tudo o que é estabelecimento comercial em Madrid. Palmas. Ao menos não são hipócritas como nosotros.


Não fosse a minha querida AF lá mi ia desgraçando com uns Jimmy Choo lindos de morrer. 500 mocas. Depois, era com uns Prada em verniz. 300 mocas. Acabei por trazer uma malinha e umas luvas e uns sapaticos. Tudo lindo de morrer.


Não fosse eu, e a minha querida AF não se desenvencilhava sozinha mais a língua. Não entendia nada. Não fosse ela, perdia-me nos combóios e nos metros. Lá nisso, sou super despreocupada. E nos dinheiros. Mas ela não. Ela é "recto, recto, recto, num bira, bai suempre, suempre em frente, chega ao redondo e corta à derêita".


Engraçado foi encontrar um Portuense rebelde na loja dos sapatos brasileiros (Hazzel) que nos recebeu com um daqueles sorrisos magníficos. Foi tão fácil comprar sapatos. Trouxemos dois, um par cada uma. Trocamos à semana. Não fora isso, tinha trazido os dois pares. Uns cinzentos compensados em camurça e uns pretos abertos à frente e de verniz. Graças a Deus calçamos o mesmo número. Graças a Deus não suamos dos pés. Graças a Deus não temos nojo uma da outra.


Jantámos num restaurante na Plaza Mayor. Fomos atendidas maravilhosamente por um senhor que tinha casado com uma Transmontana. Entendia a nossa necessidade de uma saladinha (para desenjoar os fritos todos) e um naco de carne grelhadinho. E batatas fritas caseiras. Fez-nos uma das melhores sangrias de sempre. E ainda nos ofereceu licor de Oruso. Fui tão contente para o Casón...


No terceiro dia, lá fomos nós à procura da bendita Rosaleda em Campo del Moro. Estava fechado. Ia haver uma festa a 12 de Outubro e estavam a preparar o cenário. Mierda. Apanhámos combóio na Atocha para El Escorial. Muy hermoso. Voltámos a tempo de almoçar uns Huevos Rotos maravilhosos, à hora dos madrileños. Acompanhámos com una caña Cruzcampo. Bem fresquinha.


Mais compras. Madrid Bourbón, Salamanca e Gran Via.


Jantámos no restaurante mais antigo do mundo, El Bocin, segundo o Guiness. Amámos. Foi a primeira vez em que, sentindo frio, busquei o casaco e apareceram, como que por magia, dois simpáticos empregados, um em cada manga, para me vestir. Foi a primeira vez que dois homens tiveram um real interesse...em vestir-me. Estávamos entaladas entre duas mesas: uma de brasileiros e outra de americanos...de Chicago.


Dia seguinte, "alevantámo-nos" às quatro e meia da matina. O coeficiente de cagaço foi da minha exclusiva responsabilidade. Chegámos a Barajas com uma hora e um quarto de antecedência. Deu para perceber que Madrid às 6 da manhã é mais movimentado que às 6 da tarde. Fomos a tudo o que era free shop.


Voámos. Dormimos. Chegámos. E fomos afogar a neura num brunch delicioso em Santa Apolónia...




segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Petit Gateau


Amigas,


Já sabem: quando estiverem necessitadas de desabafar sobre esse espécime que dizem ser humano, o Homem, liguem-me e apareçam por cá.


Haverá sempre um petit gateau acabadinho de fazer para vos aconchegar o estômago, um par de braços sequiosos de vos abraçar, dois ouvidos atentos e umas quantas palavras de juízo que, espero, acalmarão os sentimentos mais puros que possam ter, mas que não encontram o seu lugar neste mundo cão.


É tudo o que tenho para vos oferecer agora: petit gateaux e racionalidade.


Toda a emoção que me admiravam já não mora aqui. Toda a Estupidez do Amor Incondicional se desvaneceu. Nasceu uma nova Inês .


Que morreu na Fé do Amor...


...e de Deus.

Burn After Reading


Eu TINHA de ir ver este filme. Não pelas razões óbvias. Não vou ver um filme só porque entra o George Clooney e o Brad Pitt. A crítica era boa (o que, regra geral, vai em completo desencontro dos meus gostos pessoais). O Pitt fazia figuras tristes. Li num blog qualquer que o Clooney estava velho. E Irmãos Cohen é de ir...


Fui experimentar.


Domingo à tarde, eu e os velhotes todos da Avenida de Roma estávamos a ver o filme, com um eco de Mama Mia lá atrás, sentindo de vez em quando a vibração do metro a passar. É isto que eu gosto nas salas de cinema de Lisboa: uma massagem vibratória incluída no bilhete.


Ora, meu dilectos leitores, não gostei. Estava à espera de um humor mais súbtil. A única cena em que ri foi quando o Malkovich está a aguardar pelo chantagista Pitt no seu carro, a controlar o espelho retrovisor e se vê lá ao fundo, o Pitt a chegar de fato, com a sua bicicleta state of the art, capacete, pastilha e headphones.


Fui a única a rir daquele segundo de fita.


Não gostei.


O filme vai vender, tenho a certeza, mas pelas razões erradas.


PS - E notem, é a primeira vez que me dou ao trabalho de escrever um post sobre um filme que não gostei...é só para vos poupar os 5 eurinhos...


PS 2 - O Malkivitch é um senhor em qualquer porcaria de filme que faça... A comparação tão próxima no mesmo filme, é impressionante, o que só vem corroborar a minha teoria: quando se tem uma cara bonita e um bom six pack, tudo o resto se lhes desculpa, aos actores masculinos...incluindo a falta de talento.




sábado, 4 de outubro de 2008

CIÚME


Como já vem sendo habitual, as sextas-feiras revelam-se realmente libertadoras para pessoas que, como eu, passam 8 ou mais horas por dia a desempenhar um papel (o de trabalhador exemplar), sem pisar o risco do campo pessoal um único segundo. É preciso muito controlo e sobretudo muito jogo de cintura para dodge all the bullets...As pessoas tendem a ser muito curiosas quando há uma aura de mistério.




E no trabalho, that's all they will get from me: a I profissional.




Ora bem, que faço eu às sextas-feiras para incarnar a versão I descontraída? Ora muitas coisas, mas ontem foi só mesmo um jantar de despedida de dois amigos queridos que vão para Angola construir estradas. Ah, sem esquecer o belo do pézinho de dança que tanto me faz vibrar...




Antes disso, estava eu a sair da auditoria, lembrei-me de combinar com a minha boleia habitual a ida para lá. Era fim de semana sem "a minha pequena filha", por isso calculei que ele também fosse. Super-frio, disse-me que já tinha uma coisa combinada mas depois aparecia por lá.




- Ok. Beijinho então e até logo. [hum, aqui há gato]




Lá fui eu, linda, perfumada e versão descontraída na minha máquina. O Eixo N-S à noite não se pode...demorei quase 45 minutos para chegar a Campo de Ourique.




Estavam já todos sentados, momento único na minha vida, porque chego sempre antes dos demais e já é quase o outro dia quando este grupo começa a comer. Cumprimentei-os com saudações cordiais (à rainha, como já vem sendo habitual), acenando com a minha delicada mão de Princesa. Tinha um lugar à minha espera, ao lado do S, o meu companheiro das corridas difíceis. Os olhos mais bonitos da mesa, sem contar com os da R e os da S.




Rimos imenso, como sempre. Tinha um vegetariano à minha frente, não é um habitué no grupo, muito calado, mas estive a puxar por ele toda a noite e finalmente, quase à última da hora diz uma daquelas piadas de arrumar qualquer um...O que eu ri, Senhor!




Havia também uma cara que eu não conhecia. Uma loira "afreakalhada" sentada ao lado do meu Af na outra ponta da mesa. Estranhei e perguntei ao S que novidade era aquela. Mentiu-me descaradamente só pelo gozo de me ver desorientada. Disse que estava com o Af (que se queixa sempre de falta de companhia feminina, quando na realidade é ele que as afasta com as suas piadas escatológicas e de confessado ódio à sua oitava madrasta). A freak estava mesmo era com o T. E, pelos vistos, já durava há quase duas semanas. Woohoo. Duas semanas é para T um verdadeiro record. T é a pessoa que melhor conheço, afinal fomos colegas de faculdade, mas é também um verdadeiro enigma no que toca a relações amorosas. Enfim, ri com S...




De repente, já muito adiantado na noite, aparece A acompanhado de uma cara que me era familiar mas não sabia dizer de onde. Vinha com o fato vestido, sem gravata. Nunca vi A de fato. Fica uma brasa. E ela, com um ar triunfante e toda de negro. Acotovelei "a minha comadre" do lado e disse:




- Eiláaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa, novidades?


- Ya


- [pressenti uma má onda, mas não comentei]




A passou o resto do jantar a expiar a minha reacção (de óbvia naturalidade, mas que escondia uma certa estranheza). Enquanto metralhei piadas para os meus queridos, estivemo-nos a relembrar dos nossos tempos de Técnico, para eles uma festa diária. Eram os maiores baldas que por lá havia.




A noite já ia alta, quando pagámos, combinámos as boleias e fomos "sair". P e eu apanhámos boleia do A e da Sua Nova Namorada. P e eu no banco de trás e a SNN no "meu" lugar da frente. Ora como não podia deixar de ser, P e eu fomos à gargalhada de Campo de Ourique a Santos sem ouvir nada do que os "crescidos diziam". Riamos de momentos. Mas o Momento na Física, sobretudo quando se fala de Estática, é inexistente num corpo parado, cheio de Inércia. Toda esta conversa porque dei um encontrão propositado em P antes de nos enfiarmos no carro e ele nem se mexeu do sítio. Até confesso que fui bruta...




Anyway, em chegando ao nosso Pézinho de Dança, A não tirou os olhos de mim. E eu fico doida com boa música. Com boa companhia. Quando posso saltar de conversa em conversa como uma Farfallina. Gritava (que isto de conversar nas disconights tem um quê de sensualidade) perto do rosto perfeito de Al umas piadas sobre o facto de ele ser um cota (fica tão picado, mas são só 8 aninhos). Conversei com a nova do T sobre a minha óbvia abstinência alcoólica. Muito porreira. Trocava olhares suspeitos com P, enquanto fazíamos um concurso para ver quem sabia mais depressa o nome das músicas que passavam. Abraçava-me ao Af com nítida saudade e ele ainda nem tinha ido. Estranhei S não ter vindo terminar a sua despedida e perguntei por ele a Af. Surpresa das surpresas, S andava atrás da SNN e quem pegou foi A. S não foi para não ter de se chatear.




Males de orgulho ferido, pensei. Com a minha indiferença, consegui que A desistisse de me olhar, o que o fez decidir ir-se embora. Na despedida, sussurrei-lhe ao ouvido:




- Os meus sinceros Parabéns. Estou muito feliz por ti.


- [a tristeza nos seus olhos espelhada]




Tudo isto para dizer, meus senhores, que me senti "traída" apenas porque ele podia ter-me contado da sua novidade. Também há uma espécie de "traição" quando um confidente muito chegado nos omite um facto importante da sua vida. E sobretudo, quando duas semanas antes falávamos da sua incapacidade de se relacionar "sem medos" depois do seu casamento com AL.




Seria tudo isto uma grande encenação para me provocar ciúme?




Patético...eu nunca senti nada do género e não seria com certeza por ele que ia começar agora...